A ÚLTIMA CHAGA - O princípio das dores

Estamos em tempos muito difíceis que vai da mais íntima escala pessoal até a mais abrangente global. Nesses meus últimos quatro anos tenho travado batalha atrás de batalha que não me deram acesso à muitas opções de descanso. Não acho a vida injusta, pelo contrário, até acredito que o Universo tem sido generoso comigo em muitos aspectos, e o fato de não ter ficado doente em cima de um leito de hospital, já considero uma dessas generosidades.

Fará onze anos que tive um filho, aos trinta anos eu comecei a enfrentar os meus carmas, mesmo sem ter nenhuma noção do que se tratava na época. Mas, os padrões repetitivos e recorrentes nos meus relacionamentos afetivos e amorosos, já estavam despertando em mim, no mínimo a curiosidade para a busca de respostas desse dilema e posteriormente de vários outros. Por este motivo, inicio esta grande narrativa com este sub tema - O princípio das dores- pois além de ser a referência metafórica que o livro do apocalipse da bíblia cristã, faz aos fins dos tempos, assim eu o faço, mas também de forma literal sobre a minha vida.

Criei meu filho sozinha, com bravura, com amor, com dedicação, com cuidados. Passei por sustos que somente pais que têm filhos pequenos, entendem e passam pela situação. Quem não passa, sequer teoriza e se teoriza, passa longe da prática.

Eu e o pai do meu menino nos separamos quando o mesmo tinha oito meses de vida, mas continuamos em uma relação amigável e diplomática. Algum tempo depois é claro, da nossa última briga por telefone ao terminar a relação. Naquele dia ele resolveu ser duramente implacável com as palavras. Eu me lembro de me debulhando em lágrimas, ter sentado arrasada na sacada da casa aonde eu morava na época.

Era noite, e com toda a amargura do meu âmago e pela dor do descaso por mim e pelo meu filho, eu desejei que aquele homem sofresse muito. Uma coisa eu aprendi, tudo o que eu desejei com o meu estômago se realizou na minha vida ou na vida de terceiros, tanto de bom como de ruim. Não que eu sinta algum tipo de orgulho nisso, mas sim para relatar que a intensidade e a forma como as palavras são proferidas, move algo neste vasto Universo.

Não demorou seis meses para o pai do meu filho adoecer. Tenho essa noção de tempo porque ele não pôde comparecer ao aniversário de um ano do nosso filho, tendo em vista que essa nossa briga, como dito anteriormente, aconteceu quando o nosso filho tinha oito meses de vida. Isso se deu no ano de 2010.

Com algum tipo de propósito do Universo ou sem, eu acabei indo morar com ele no final do ano de 2015. Mesmo sem termos um compromisso de homem e mulher. Éramos adultos e sensatos para podermos ter uma relação assim, até mesmo para o bem do nosso filho. A ideia inicial era ele me abrigar por um ano em uma casa ou que pelo menos deveria ser a dele. Porém, no segundo ano a sua doença agravou e foi terminal. Cuidei dele na medida do possível, mas o inevitável aconteceu. O mesmo veio a falecer no ano de 2017, quando meu filho tinha apenas sete anos de idade. Faleceu de doença renal crônica, anemia e choque hipovolêmico, segundo laudo médico. E claro, segundo o meu laudo, por negligência médica, graças ao sistema defasado de saúde pública da cidade Maravilhosa, mais conhecida como Rio de Janeiro.

Ele tinha as paqueras dele na época e eu tinha uns encostos que se aproveitavam da bondade do meu coração. Eu ainda tinha muita energia vital, sempre fui muito empática e ingênua, pois não via maldade nas pessoas. Hoje aos quarenta, eu sei que sou empata e que atraio vampiros energéticos, inclusive, ajudei alimentando muito deles. Em sua maioria também costumam ser abusadores e psicopatas, hoje eu entendo bem do assunto.

São seres altamente tóxicos e manipulares que fazem de tudo para fazerem as vítimas da relação, se sentirem culpadas pelos erros que eles mesmos cometeram. Para a minha cronologia, tudo começou no ano de 2015 com um grau de abuso que eu mesma devido à minha experiência pessoal, classifico de moderado. O primeiro se chamava Claudio, que tinha como profissão, ser policial civil. Começou despejando em mim as frustrações do término do seu relacionamento com a sua ex-mulher, que segundo ele mesmo, o denunciou por abusos e ameaças, mas obviamente que na versão dele, o lobo mau da história era ela.

Desejando e procurando um porto seguro, alguém que me amasse de verdade e que reconhecesse as minhas qualidades foi que eu só conheci esses embustes. Conversando e saindo por alguns meses, aturei suas bipolaridades, mau humor e suas descargas energéticas negativas. Usava algumas de suas complicações de saúde como forma de me manter presa a ele e de forma compassiva. Quando ele sentia que eu estava me sentindo muito sobrecarregada com os problemas dele, fora os que eu já tinha, ele assumia de forma imediata o papel de vítima do mundo e de todos.

O vitimismo era tão grande que chegava ao ponto dele sugerir em tirar a própria vida. Fator este, que ao longo das histórias aqui por mim relatadas, poderá ser visto outras vezes. Terminamos o relacionamento porque eu tinha que sair da minha casa alugada e como ele (ainda bem) na época não me chamou para morar com ele, eu pedi guarita ao pai do meu filho por um tempo, para não ter que voltar a morar na casa dos meus padrinhos, cuja convivência não era muito fácil. Mas este é assunto para um outro tema.

Nunca entendi e hoje sou muito grata à Deus por isso, o porquê dele nunca ter me chamado para morar com ele, visto que morava sozinho em um apartamento, e eu já conhecia praticamente toda a sua família e história de vida. Era uma mulher extremamente amorosa, carinhosa e paciente. Mais adiante relatarei a aparição deste primeiro abusador na minha vida. Aparições que não foram uma, nem duas e nem três, mas quatro vezes.

Digo que ele foi o primeiro abusador, porque foi a partir dele que comecei a questionar as tais recorrências citadas no começo deste desabafo. E quanto ao falecido pai do meu filho, não o considero no perfil de abusador. Era um homem difícil, confesso, pois como a própria psicóloga dele o classificou como um sociopata funcional. Ou seja, ele gostaria de sair atirando em todo mundo como no filme "Um dia de fúria", mas conseguia de alguma forma canalizar essa energia para outras coisas e não em pessoas. Apesar dos nossos contratempos no início da vida do nosso filho, sempre foi um pai presente e querido por meu filho, além de passar a me respeitar como a mãe do seu filho e também como mulher.

Já no primeiro ano e já morando amigavelmente com o pai do meu filho, em 2016 conheci aquele que seria o abusador de grau grave...

(Continua...)