O suicídio do amor. (A ultima carta)

Uma pagina em branco pronta pra ser preenchida, pronta para receber meus versos e poesias, meus sentimentos carregados de dor, meus olhos marejados d'agua embasam as letras e é involuntário tentar controlar o choro, passo as mãos pelos meus cabelos como se de alguma forma eu tentasse entender como de fato cheguei á esse ponto.

O desespero toma conta, e em uma forma impensável de tentar amenizar a dor eu saio pra varanda, já é noite e eu não posso gritar como gostaria, então uma taça de vinho me faz companhia, aquele aperto na alma é familiar, mas dessa vez está mais intenso e sombrio, agora são três da manhã em uma madrugada de lua cheia e sinto como se algo rasgasse minha alma por dentro, as lagrimas caem sem cessar, um cigarro atrás do outro, vinho e mais lagrimas.

Me sento no chão com o caderno nas mãos e continuo a escrever, após alguns versos eu preciso parar novamente, será uma noite carregada de angustia, que vontade de encontrar um abismo e me jogar. Eu acredito que quem acaba com sua própria vida não faz isso pra resolver os problemas e sim para dar fim a uma situação sem solução, algo sem cura, já perdi as contas de quantas vezes já pensei em acabar com de vez com toda essa dor, o que mais eu tenho a perder?

A escrita foi tudo que me restou da vida, e nada melhor do que encerrar uma historia deixando mais alguns versos, então me recomponho na medida do possível, mais um gole de vinho, em uma das mãos a caneta na outra mais um cigarro, coloco minha musica favorita no ultimo volume do fone, fecho os olhos antes de tentar mais uma vez descrever em palavras o que sinto, nem sei se isso é possível.

Os livros de auto ajuda nos ensina que não devemos depender de outra pessoa pra ser feliz, mas eles não ensinam como domamos nossa mente e nosso coração para isso, pelo menos eu nunca aprendi como ser feliz sozinha, quem dera eu nunca tivesse conhecido a felicidade, assim a vida monótona e infeliz que tinha seria suficiente pra mim, mas alguém tinha que aparecer, e me mostrar a felicidade, deixar o gosto de saudade e depois me deixar.

Essa historia é real não é um conto, já fazem quatro anos desde da sua partida, e em todo esse tempo eu te acompanhei de longe, ainda bem que existe as redes sócias, eu vi você indo fazer outra pessoa feliz enquanto eu morria um pouco todos os dias, e em um ato insano e sem freios eu te procurei, e você me disse coisas que jamais esquecerei, e como um filme bom eu te revivi todos os dias até aqui.

Nossas conversas me trouxeram seu cheiro de volta, e quando consegui de novo ouvi a sua voz foi como se eu tivesse conseguindo zerar a vida, me fazia tão bem cada MIGALHA que você me dava, tínhamos hora certa pra se falar, afinal de contas eu sou a outra, DE NOVO, mas o amor que tenho em mim guardado por todo esse tempo em silêncio, agora eu poderia ao menos expressar de fato pra você, então eu me entreguei de novo a essa loucura e ainda bem que você esta a quilômetros de distancia, eu acredito que o estrago que faria na minha vida seria muito maior se estivesse por perto.

O precipício se aproxima quando vejo que eu não significo nada pra você além da amante mais gostosa que já teve, que ótimo cargo para se ocupar não? Como eu queria ter o poder de te arrancar de mim com as mãos e matar cada pedacinho de você, pra não sobrar nenhum resquício de ti em mim, mas eu não sei fazer isso, nem ao menos sei te enterrar vivo dentro de mim, o melhor a fazer é acabar de vez com tudo isso, a vida já foi bela.

Alguns comprimidos ao lado da taça de vinho me fazem o convite para o fim daquilo que poderia ter sido uma brilhante historia de amor, após tomar eu vou dormir em um sono profundo pra nunca mais acordar, e se alguém se preocupar em procurar saber o que houve, terão a certeza que foi um mal súbito, assim ninguém se culpara por não ter estendido a mão e me tirado do precipício enquanto eu estava ali dando todos os indícios.

Agora mais perto do fim, eu paro pra refletir que não sabemos como é a morte de fato, mas que se de alguma forma for possível sentir algo mesmo morta, eu sentirei falta dessa musica, e da brisa leve de verão, vou sentir falta de tomar banho de chuva e de brigadeiro de panela, vou sentir falta dos raros dias que pude sorrir, sentirei falta do vinho e do cigarro, e também da minha serie favorita.

Só não quero mesmo depois de morta é sentir a sua falta, isso já me consumiu o bastante aqui, com o fim eu quero esquecer seu sorriso, e o conforto dos seus braços, quero esquecer o brilho dos seus olhos e o seu cheiro, eu imploro pra esquecer do tom rouco da sua voz e da sua risada que dava cor aos meus dias, quando estiver fechando os olhos sentindo a vida ir embora as poucos, eu vou fazer um ultimo pedido, não deixe nenhum resquício de você em mim. Bem vindo ao fim!

Lais Andrades
Enviado por Lais Andrades em 01/04/2021
Reeditado em 01/04/2021
Código do texto: T7221176
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