Minha doce e querida Manoela.

Hoje, neste dia triste e cinzento de inverno, a saudade de tua companhia faz-se mais e mais presente. Ah, minha querida, como os dias parecem tão iguais e sem cor longe de ti, como minha casa faz eco em todos os lugares onde costumavas deixar o brilho do teu sorriso.

A vida está insuportável sem a tua presença ao meu lado.

Por que não me ligas uma vez que seja? Eu preciso saber de ti, da tua vida, este silêncio me alucina.

Só tenho paz no trabalho, e como tenho trabalhado mais ainda, são momentos de esquecimento de ti, de mim, de nós.

Como me dói a vida sozinho na casa que foi nossa até o dia da tua partida.

Sei que errei contigo, reconheço todos os meus erros, minhas falhas e desatinos, meu egoísmo, mas eu não sabia que tudo seria provisório, você consegue me entender?

Você estava nos meus planos junto com a casa e os futuros filhos, perfeitos, meu amor, tudo o que um homem com dinheiro e poder pode comprar.

Entenda, a tua beleza e juventude me fizeram delirar de prazer, era tão bom te possuir, você sempre sorridente à minha espera.

Claro, algum tempo depois você já não sorria tanto, mas eu pensava que fosse normal no casamento, o tempo leva a paixão e resta a solidez do amor pleno.

Começaste a reclamar de mim, e falavas sempre a mesma coisa, que eu não prestava atenção nas tuas necessidades, que eu só falava de mim, que você queria trabalhar e estudar e eu não permiti.

Ah, meu amor, para que trabalhar afinal se eu sou rico? Poxa, estar comigo deveria te bastar eu assim pensava.

Imagina, em alguns dias cheguei a pensar que querias sair só para poder conhecer outros homens, quanta bobagem!

Hoje vejo que era um desejo legítimo de uma mulher inteligente e culta.

E o ciúme, ah, o ciúme doentio me consumiu todo o tempo, você parecia uma flor rara, pronta para ser colhida por qualquer um que passasse ao seu lado, isto eu jamais permitiria.

Preferiria morrer a sentir tamanha dor.

Então comecei a ter delírios e te maltratar.

Fisicamente? Pouca coisa, eram apenas avisos do teu dono.

Eu te quero Manoela, você pode entender isto?

Você é minha Manoela, para todo o sempre, desgraçada!

Arde no fogo do inferno, porque agora que fugiste, tenho que me consumir e me castigar duramente.

Não sei mais onde colocar tanta raiva e frustração.

Suma do meu pensamento, sua vagabunda! Prefiro que você morra a viver talvez feliz com outro sem que eu tenha o controle de ti, da tua vida, do teu corpo!

Volta, Manoela.

Do sempre e eternamente teu, Ricardo.

Jeanne Geyer
Enviado por Jeanne Geyer em 15/04/2021
Reeditado em 12/01/2022
Código do texto: T7232379
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.