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Eu sempre detestei legos na infância, sempre fui uma criança impaciente que não via sentido naquelas montagens bobas que terminavam em falta de peças para dar continuidade a construção inanimada. Hoje sinto que estou colocando legos e montando algo que provavelmente eu não saberia nomear nesse momento. A questão é que minha ansiedade infantil me tirou o prazer de montar cada pedacinho de um brinquedo, minha versão madura se recusa a se privar de tal prazer, uma vez que: o que é a vida senão amontoados de pequenas felicidades? Estou falando de Lego porque dentro do meu universo é mais fácil falar por metáforas, você é meu Lego, todo dia ponho uma peça sem saber onde vai parar e continuo com a vontade de botar outra, tentando não imaginar de maneira negativamente ansiosa se haverá um momento futuro que a construção irá ceder e iremos cair ambas no chão duro. Não quero cogitar essas possibilidades, quero só viver, sentir as coisas sem medo e pressa e tentar sorrir ao imaginar nossa fragmentada e pequena construção brilhando a luz do sol, imaginar seu lábio no meu e sentir borboletear o estômago de maneira sútil, as nossas mãos se entrelaçando na avenida movimentada enquanto carros passam e ficamos apenas a existir dentro de um universo particular e íntimo, sendo para as demais pessoas apenas mulheres distraídas que se olham com afeto, justamente o olhar que quero devorar você:afeto, compreensão . Diante da minha vasta existência e ainda assim contida estou feliz com sua chegada inesperada, é bom comprovar a olho nu que existem pessoas reais que não precisam se mascarar para serem interessantes, pessoas que de maneira própria são inevitavelmente incríveis. Desse modo eu sigo, com minha escrita desordenada, com minha mania desesperada de tentar (inutilmente) traduzir o que sinto em palavras, com minha disposição de prosseguir vivendo na sutileza de ter seu caminho colidido com o meu ainda que de maneira virtual e principalmente com a minha vontade de colocar o Lego de amanhã na construção.