Insônia.

Duas horas da manhã. O sono não chega. Não percebi as horas passarem. Os pensamentos vão e vêm, céleres. Tento manter-me tranqüila, esvaziar a mente, mas as relembranças me acodem sofregamente, tirando-me mais uma vez, da letargia que lentamente, começava a me envolver.

Penso em te escrever, contando minhas pequenas vitórias do dia-a-dia. As conquistas lentas, mas incontestáveis. Falta-me o confidente.Aquele com quem dividimos nossos sonhos e frustrações.

Família é diferente. Há coisas da intimidade que não consigo abrir com filhas, ou irmãos. Por mais amiga que seja dos familiares, há amigos que conhecem de mim, mais do que eles. Há faces que permanecem obscuras, diante da família.

Lembro do personagem de Meryl Streep em As pontes de Madison. Depois de sua morte, os filhos encontraram seu diário e descobriram na mãe, uma mulher que lhes era desconhecida.

Por essas e outras, que eu costumo, de tempos em tempos, rasgar minhas anotações do diário. Se existe me mim algo que é desconhecido dos familiares, quero que continue sendo. Em parte, é por orgulho. Não quero ser julgada, depois de morta, por ter vivido momentos só meus.

Dividi contigo, muitos desses momentos, reais, verdadeiros. Queria contar-te como encontrei saídas para situações aflitivas, sem vender a alma ao capeta. Queria contar-te como encontrei uma nova maneira de ter momentos alegres, descontraídos, aqui, na vida real. Momentos que me emocionam, muitas vezes, às lágrimas.

Queria dizer-te que ser sozinho é diferente de ser solitário e que é possível nos unirmos a pessoas diferentes, para desfrutarmos da vida, sem, no entanto, nos envolvermos emocionalmente, afetivamente, sem a necessidade de relacionamentos íntimos, ditados apenas pelo desejo físico.

Queria dizer-te que estou bem, sozinha, mas não solitária. Afinal, se tudo dura o tempo necessário, compreendi, um dia, que nosso tempo acabara. Que devíamos partir para outros momentos. Queria dizer-te ainda, que minha procura acabou, realmente. E, estou feliz! 26/11/2007