DESABAFO

Sabe aqueles dias que você sente que as coisas tão se destruindo, se findando e te machucando como poucas coisas na vida machucam? É esse dia que tô vivendo e isso que eu estou sentindo. Sei que existe um grande catálogo de erros que cometi, outros que me omiti. Acho que meu maior desgaste foi pecar tanto por excesso de omissão, reconheço. Concomitantemente, reconheço cada pecado, cada falta e cada ausência. Mas me senti muito impotente, sem forças pra reagir, mesmo sabendo tudo o que eu precisava fazer e dizer nada o fiz. Fiquei aqui inerte como os átomos de qualquer matéria em estado sólido. E aí da assim estou, querendo fazer, querendo dizer e meu corpo imóvel feito qualquer coluna de um templo em ruína, silencioso feita uma plateia de uma opera qualquer. Troveja em mim um barulho ensurdecedor dentro do meu peito tempestuoso, ecoa, vibra, entretanto ninguém ouve e ninguém sente. Enquanto um turbilhão de coisas acontecem dentro de mim, que me sufoca e me cega. Mantenho-me aqui parado, dando importância para as coisas simples e supérfluas enquanto tudo o que me interessa se desgasta na poeira e nos olhos úmidos que me corrói. Acho que estou perdendo a mulher da minha vida, porém estou aqui esperando... me resguardando, me destruindo, quase que imóvel, como qualquer covarde!