Sempre só.

Era uma menina bonita, inteligente, bondosa, divertida e capaz, mas constantemente solitária.

Não era incomum que alguém se perguntasse por qual motivo alguém tão brilhante estivesse sempre sozinha.

É que suas qualidades, por mais incríveis que fossem, eram incapazes de suprir o único defeito que tinha: a menina era também, além de virtuosa, excêntrica.

Em suas peculiaridades e maneira de ver o mundo, com o jeito agitado, olhar sempre afiado e uma língua que nunca parava, ela se mantinha no pódio, alvo de críticas severas de todos os lados, mas sem perder a majestade.

Na rua, uma fera, seu mecanismo de defesa mais eficaz. Quando se trancava em casa, porém, ela chorava. Tinha medo de morrer, e de trovoadas, medo de perder entes queridos e de sofrer dores horríveis com doenças incuráveis. Tinha medo de passar fome, frio e cansaço emocional e sempre se sentia inútil, não importava o quanto ajudasse os outros.

As crises de ansiedade alimentadas por cada medo bobo iam apenas esticando e tomando espaço em seu coração que atrofiava.

Ninguém entendia como uma mulher tão forte e cheia de si poderia ser assim, tão quebrada. E por não entender, ninguém cuidava dela.

A menina lambia suas próprias feridas, cuidava de seus machucados e chorava suas mágoas para si no espelho. Ela criava personagens, amigos imaginarios e contava seus segredos a eles. As vezes, inclusive, abraçava os próprios ombros e imaginava que alguém a estava cuidando.

Não sabia pedir ajuda.

E ainda que seus pedidos silenciosos fossem claros como água, todos se habituaram a vê-la resolvendo tudo sozinha.

Acostumou-se com coisas temporárias, principalmente as pessoas. E cansou de se deixar iludir pelos breves momentos de felicidade que elas lhe proporcionavam. No final, a menina que tinha tudo para ser alegre e sorridente, escondia um rosto manchado de lágrimas por detrás daquela máscara de força e beleza.

No fundo, tudo o que desejava era um abraço gostoso, apertado e alguém que não a tratasse como louca. Mas, como uma pessoa seria capaz de ver um chocolate e não trata-lo como tal?

Ladra de Tinta Seca
Enviado por Ladra de Tinta Seca em 15/07/2022
Reeditado em 15/07/2022
Código do texto: T7560429
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