Nunca contei isso a alguém...
Eu sempre quis ser salva.
Desde pequena, soube que tinha algo errado comigo. Eu chorava tanto, sentia-me triste, sozinha, desajustada e infeliz. Todas a pessoas que conhecia, os amigos que fazia eram temporárias, ninguém jamais ficava tempo o bastante.
Acostumei-me aos romances curtos, de poucos meses, semanas, até dias. E às amizades que só existiam sazonalmente, também. Feito uma esponja, puxava tudo pra dentro e moldava um personalidade que cabia em cada grupo, cada saída, cada enredo.
Secretamente, sonhava e até rezava por alguém que viesse e me tomasse pela mão: ok, está tudo bem, eu cuido de você agora e seremos nós contra o mundo. "Pertencer"... A algum lugar, a alguém, era tudo o que eu queria: sentir nos ossos qual era a sensação de fazer parte de algo verdadeiramente.
A gente cresce, porém. E a vida tem maneiras cruéis de mostrar que, no fim, é só a gente por a gente mesmo. Segui esperando o tal salvador, mesmo assim. O enxergava em cada relacionamento fracassado que eu cada vez mais protelava e insistia até o último segundo, na esperança de dar certo.
O último durou 6 anos.
Ele me levou embora do país e eu vivi dois anos terríveis lá. Acabou não dando certo e os caminhos seguiram. Eu, é claro, "segui" sem pertencer a nenhum lado. É desgastante querer tanto uma coisa que parece não existir para você. A beira dos 30 anos, vejo as pessoas a minha volta - até bem mais novas - conquistando tudo o que sonhei e, a verdade é que estou cansada de sentir inveja delas.
Como deve ser bom ter um lar, uma família, um lugar onde você se sinta protegida e olhe em volta com a certeza de que sim, aquela é a sua casa e nada vai te machucar ali dentro. A Disney me ensinou a crer em príncipes encantados quando mais nova, mas não sou herdeira, nem branca e muito menos indefesa... Faz sentido por que tive de largar essa ideia tão rápido.
É só que... Ser meu próprio príncipe o tempo todo cansa. O que me faz sentir empatia por meninas que largam tudo e somem com homens bem mais velhos apenas por interesse, só um desabafo. Na real, depois de passar quase sete horas de pé, andando de um lado para o outro, sem poder parar para ir ao banheiro ou tomar um pouco de água, tudo o que eu queria era um colo e massagem nos pés. Um cafuné nunca foi tão valorizado!
E sim, eu sei, esse texto é só uma porcaria sem sentido ou valor literário, mas, quem liga? Eu só precisava botar pra fora o quanto tem sido cansativo tentar... Gosto de ser sozinha, gosto da minha independência, mas eu sonho o tempo todo com o dia em que esse vazio vai ser só uma lembrança distante demais para incomodar.
Se eu gritar essa noite, será que alguém vem?