Devaneios de um sono picado

Cinco horas e alguns minutos arrastados, foi o tempo que você levou para voltar.

Desde que começamos nessa aventura meio torta de tentar ficar juntos, esse se tornou o maior espaço de tempo que não nos falamos propositalmente. Mesmo sabendo que você precisava de espaço e entendendo as suas necessidades, é doloroso saber que consegue e foi torturante esperar e assistir a tudo o que você deixava para mim.

Primeiro, apagou sua foto de perfil e me deu um medo enorme de que estivesse deletando tudo e fosse mesmo cumprir a promessa de pegar suas coisas e desaparecer. Depois, as fotos que deixava ali por baixo, de uma época em que estava mais tranquilo, feliz quem sabe...

Por fim, a citação de Georges Méliès e essa me doeu mais. Afinal, foi o começo de tudo, o ponto de partida para a nossa história nada convencional.

Fez-me entender porque eu levei tanto tempo no meu último relacionamento. Eu sabia que sentiria falta da calmaria, da confiança, do colo, da segurança e da parceria. Por mais "encostado" que ele fosse, não tinha estresse, não tinha gatilho, não tinha pressão... Não tinha sexo ou paixão também, como você bem sabe. Mas, eu não perdia noites em claro e nem passava as minhas crises só.

Sinto falta disso. Não dele, mas da sensação.

No final, eu agradeço por você tentar ser melhor, mas acho que o problema está aí. Você não deveria passar pelo martírio infinito de tentar ser algo para mim quando você já estava vivendo a sua vida perfeitamente bem antes de eu chegar.

Meu maior e mais pesado gatilho é o do abandono. É o que me corta mais fundo, o que me fere mais fácil, o único para o qual eu não tenho defesas. "Você sabe que Letícia não lida bem com rejeição", uma vez disseram. Hoje eu sei que faz parte da condição de borderline, mas um diagnóstico não faz amenizar a dor.

Você me perguntou se eu queria terminar e eu já não estou mais tão certa de que não. É aquilo, sabe... Você amadurece e percebe as inconstâncias muito mais fácil do que quando tinha dezessete anos. Eu não suportaria um segundo Gabriel e, mesmo que você não seja tão monstro assim, não sei se conseguiria aguentar o sofrimento de um primeiro você.

Tenho que pensar em mim.

Eu preciso pensar em mim.

Não consigo dormir e ainda são 2 e meia da manhã. Essa não pode ser a minha vida. Espero que você tenha organizado as suas ideias até o amanhecer, porque eu não sei se eu vou estar aqui por muito tempo, não da mesma forma. Alguma coisa em mim quebrou esta noite e talvez nem mesmo você que vive consertando sistemas consiga arrumar este aqui.

Boa sorte ou boa viagem, o que você decidir.