Dos lobos, o maior.

Era uma alcateia em profusão.

Centenas de lobos enraivecidos, completamente tomados pelo aspecto selvagem e desgovernado, enfiando garras e presas uns nos outros em um círculo de gladiadores ferinos sem fim.

No centro, eu - ferida e assustada, mas não a ponto de fugir dali. Aquela era a minha alcateia, meus medos, minhas dores, todas as inseguranças e gatilhos que roubavam o sono à noite. E eles estavam descontrolados dentro de mim.

Dos males, o maior: você. O único ao qual consegui dedicar um nome próprio e não um adjetivo ou sentimento. Ainda tenho meus problemas com sua imagem, forma, voz - mesmo que pouco me lembre dela - e todas as lembranças intrínsecas sob a pele. Um lobo de pelo escuro e olhos castanhos, patas finas, cintura fina, mas presas capazes de dilacerar a carne, como bem o fez.

Você me ensinou que estou sempre errada, que eu devo pedir desculpas e correr atrás dos meus erros, que meus sentimentos não são importantes ou válidos ou mesmo relevantes. Mentiras, dramas e vitimismo, isso sim, você endereçada ao meu lado do tabuleiro. Acho que me acostumei a ser tratada dessa forma, a não poder levar minhas dores à sério e ter que calar sempre diante de um alfa.

Há poucos dias, sonhei que te mostrava esse espaço, como muitas vezes já sonhei no passado. E você entendia o quão fundo me feriu, o quanto me deixou destruída ao ponto de não conseguir confiar em mais ninguém. Eu coloquei minhas mãos no fogo por você e os Deuses sabem o quanto terminei chamuscada e com cicatrizes irrecuperáveis por conta disso. Você, que se vestia de ovelha esse tempo todo, me tornou inamorável, incapacitada de me envolver com alguém de novo.

Quem sabe um dia, não é? Por enquanto, ainda revivo meu maior lobo e meu maior medo, todos os dias. Culpa sua e culpa minha, que deixei chegar a esse ponto quando eu sabia que não conseguiria ter um relacionamento saudável com ninguém. Vida que segue.