Odeio sentir que faz falta
Saudade é uma coisa boa, nostalgia até dá para engolir, mas sentir falta se assemelha à desgraça!
Com o primeiro, há amor.
Com o segundo, reverência.
Mas, esse terceiro, é um sentimento amargo de vazio, um tão profundo que nem se sabe dizer ser bom.
No meu caso, não é.
Odeio sentir falta de poder falar qualquer coisa com você. De ter essa liberdade até abusiva de saber de cada vírgula da tua vida, teu passado, teus medos, as cicatrizes mais profundas. Você não se importava se ia chorar, rir ou ficar com raiva: sempre dizia, o que quer que fosse, com a maior sinceridade e naturalidade do mundo.
Sabia que nunca teria isso novamente e cada relacionamento futuro me traz a certeza de que é impossível: era algo nosso, essa conexão de almas, dentro e fora do leito, com uma dominação tão profunda que doía e tinha o poder de nos destruir.
Como destruiu, sem deixar vestígios.
Não sinto saudade, é verdade. Sequer nostalgia das lembranças, pois sei que a maior parte delas não tem mais sentido. Porém, falta eu sinto: de saber o que você tá pensando só de te olhar, de conhecer as pessoas do seu passado sem precisar ter falado com elas, de entender seus pesadelos, pois conheço os seus medos mais profundos e de ter a liberdade de dizer: sabe aquela pessoa? Eu a conheço, profundamente.
Até quando me machucou, você me contou com a sinceridade de quem corta a cabeça de um prisioneiro. E eu te conhecia tanto, cada detalhe, que sabia até com quem tinha sido e onde e de que forma. Jamais terei isso de novo e talvez seja bom: ninguém merece conhecer tanto de alguém que não vai ficar.
Não que eu quisesse que ficasse, eu só…
Sinto falta de poder olhar para alguém e dizer: eu sei quem você é, quem você foi e estou ansiosa para conhecer quem você vai ser.