Carta 06 - 23 de abril de 2023

Guilbert,

Amadurecer não têm sido fácil, não para mim. Esconder sentimentos, evitar as lágrimas, ser mais forte, evitar emoções e parecer mais adulto têm sido tudo muito novo, tudo bem diferente de quando eu tinha 17 anos, o que não faz tanto tempo assim. Eu costumava acreditar que amadurecimento levava anos e que existiam pessoas que jamais alcançariam esta tão esperada fase, estado de espirito, que seja. Não escrevo sobre você já a algum tempo, mas tenho carregado tanta coisa na garganta e na mente, que seria egoísmo de minha parte não falar sobre o que me aperta o peito ultimamente. Lembro e ainda consigo sentir a sensação que foi saber que você estava de volta. Ignorei os primeiros sinais, mas já os via como sinais de amadurecimento. Confesso que quando recebi sua mensagem, senti um turbilhão de sensações. Senti medo, fiquei tenso, o choro quase saiu no meio de todos e um copo de água com açúcar nunca me caiu tão bem, outrossim, confesso que um sorriso de canto estava no meio disso tudo. Não conseguia pensar em uma resposta que não parecesse desesperadora, ágil, carregada de vontade e ânimo, portanto ignorei. Foi uma das noites que mais demoraram passar depois de muito tempo. Mal espero por falar daquelas seguintes duas horas de conversa que viriam a acontecer no dia seguinte, acho que consegui esconder boa parte da sensação e da agitação que tomava de conta de mim. Depois de 1 ano eu estava ali, frente a frente com aquele que eu jurava jamais se quer trocar um simples "oi", como você acha que minhas emoções deveriam se portar? Acho que sei esconder elas tanto quanto expor quando as sinto. Relembrar, rir, contar novidades, trocar experiências e boas risadas foi o suficiente para que meu peito se agitasse por mais uma vez, ainda que carregado de dúvidas. Durante toda essa semana que mantivemos contato, eu pude sentir por mais uma vez. Não que tudo fosse as mil maravilhas, mas percebi um sentimento maduro, nada idealizado e menos emotivo. Sentia como um adulto sente, ainda que eu assim estivesse carregado de boas intenções. Hoje, volto a te escrever depois de uma conversa bastante madura, autoexplicativa e recheada de risadas e boas felicitações. Confesso que ainda sinto muito, na verdade sempre senti, só tive que sentir um pouco menos exagerado quando estava perto de você. É uma sensação tão boa que só sei porque estou sentindo, mesmo que já faça uma semana que não nos falamos. Eu nunca havia sentido a verdadeira sensação que é abrir mão de algo que se almeja tanto devido aos impasses da vida. Concordo com você que a distância é um dos piores no meios de nós dois, além das inseguranças, dos medos, das expectativas e da espera. "Porque não pode ser mais perto" eu vivo a me perguntar. Talvez se fosse tão perto assim, não existiria essa conexão e essa liberdade que existe entre nós. Parece clichê, e é, dizer que em meio aos seus questionamentos de uma ausência de cuidado e aos seus momentos de solidão, eu gostaria de ser aquele que supriria suas necessidades, gostaria mesmo. Claro, eu também gostaria de ser aquele a quem você apresentaria a Dona Yara, aquele que tentaria cativar a Maria Gaby todos os dias ou até mesmo ser o motivo das suas melhores conversas com o Senhor Gilberto. Penso nisso tudo a mais de um ano e têm sido estes os mesmos pensamentos que tenho quando olho pro mais novo print de tela que tenho de nós dois. Nossas realidades são tão diferentes, que seria ironia se tudo desse certo, se fosse tudo tão fácil. Há algumas coisas que ainda gostaria de dizer, mas acho que disse o suficiente para te manter por perto, ou pelo menos não tão longe quanto foi este ano que passou. Espero ainda poder falar mais de você, talvez algum dia você leia isso tudo. Ainda hei de escrever tantas cartas e compartilhar tantas noticias boas, que este é o maior dos sacrifícios que tenho feito, só para não te perder por mais uma vez. Espero te reencontrar por mais 447 vezes que forem preciso, aqui, nos EUA, numa plantação de milho ou até depois do universo. Você sabe do quanto é capaz de ser o que quiser, queria ter pelo menos um terço desta vontade de vencer que você tem. Fique bem e alcance todos os seus objetivos, mesmo distante, o ursinho que é mais vermelho que qualquer coisa torce muito pelo seu sucesso, mesmo que algum dia você esqueça completamente de mim. Caso esqueça, escute Vagalumes Cegos, ela há de te acalmar sempre que você precisar. Obrigado por amadurecer e se autoconhecer. Se um dia precisar de alguma companhia, você sabe onde me procurar. Um abraço e um cafuné demorado.

Arthur, o seu vinculo mais engraçado, tenso e exageradamente carinhoso

Saiba que mesmo distante eu cuido de você, as borboletas fazem esse papel por mim sempre que presentes. Desejo-te tudo que há de bom, meu leite ninho favorito.

Querido Arthur
Enviado por Querido Arthur em 23/04/2023
Reeditado em 23/04/2023
Código do texto: T7770926
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