Guimarães Rosa caminhoneiro, café ruim e a goteira.

Você me fez rir de uma goteira. Fez mesmo. Mas primeiro: Quando eu vejo você de novo?

Por aqui as coisas, os pensamentos, eles tão como poeira fina, finíssima. Flutuando.

Eu fui ver aquela exposição que você falou, fiquei vendo com os seus olhos, imaginando que tu faria um comentário inteligente sobre as coisas, bem a sua cara.

Entrei lá e tinha uma instalação de uma goteira. Pois é, aprendi isso, a moça da galeria falou: "infiltração artística não, é ins-ta-la-ção". Bem pausada e articulada, como se explicando pra uma criança. Errada não tava. E aí veio uma fala-verbete

" Instalação artística é quando o espaço e a arte não se separam" Ela disse.

Tava lá, no meio do saguão, a goteira caindo de um buraco no teto, as pessoas olhando, água caindo, pessoas olhando...não sei se entendi, mas agora acho que entendi mais. Achei engraçado.

Se for isso mesmo, essa coisa da arte e do mundo se confundirem, você é mesmo uma instalação artística viva, e das mais bonitas que tem.

Ah, outra coisa, eu comprei aquele café de rico. Chique, grãos selecionados e não sei o que. Ruim de verdade. Será que café é tipo cerveja? Que todo mundo finge que gosta e finge que entende?

Enfim, não sei, me fale aí.

E só pra não te roubar mais o tempo, sério, eu posso jurar juradinho que vi Guimarães Rosa dirigindo um caminhão, outro dia. Ele mesmo, o poeta lá, o escritor. Nem por nada, é que no para-choque vinha a frazesinha curta, de arremate:

"Dias piores virão."

(Guimarães Rosa caminhoneiro, o terror dos coaches.) Dias piores virão. Achei engraçado essa frase, ela veio na voz sussurrada, do auto consolo. Como se, pra aplacar o agora, eu devesse acreditar que o que vem depois é ainda mais agudo, escarpado... não sei, não sei.

Bom, era isso. Acho que já vou indo. Nenhuma dessas coisas que eu escrevi deve significar muito, só gosto mesmo é de te escrever, falar um pouco de besteira, saber das novas...

Abraço,

até mais.

Do amigo que te ama