Carta 07 - 28 de agosto de 2023
Querido Guilbert Emmanuel,
Lembra de um ano atrás de quando conversávamos sobre o quão o último o ano do ensino médio seria algo cansativo e que eu achava que não conseguiria sobreviver a tamanha frustração? Pois bem, sobrevivi.
Mas antes de falarmos de mim, que tal falarmos de você? Claro que já faz bastante tempo desde a última vez que conversamos de verdade. Está tudo bem em casa? Como anda o curso técnico? Sua irmã ainda bagunça seu quarto? Sua mãe ainda sabe sobre a gente? Ainda deseja se tornar médico? Desculpas por esta carrada de dúvidas, mas, em um ano aconteceram tantas coisas comigo que se fossemos parar para discutir sobre, você ficaria com sono, como sempre.
Depois do último ano (a qual consegui escapar), fui um dos primeiros da minha escola a ser aprovado em um vestibular. Aprovei em Pedagogia, numa universidade pública daqui de Fortaleza. Consigo imaginar sua reação caso estivéssemos cara a cara, o sorriso cobriria o rosto e você diria que eu levo jeito pra coisa. Ressalto que conheci pessoas incríveis que estão
me ajudando a sobreviver no meio acadêmico. Você adoraria conhecer meu novo grupo de amigos, sempre falo de você pra eles. Percebi que apesar de não pensar muito na carreira docente, levo jeito pra coisa. Minha oratória melhorou muito e minha escrita têm sido cada vez mais lapidada. Acho que agora nem só de poemas, cartas e dedicatórias se resumirão
minhas escritas. Ainda penso muito em mudar de curso, já que meu sonho é cursar Enfermagem. Acho que afloraria meu lado humano, meu lado sensitivo, minha vontade de ser útil e meu desejo de ajudar a aqueles que nem sequer possuem uma rede de apoio. Não que eu não consiga fazer isso sendo um professor, ainda estudo minhas opções. Ressalto que você
diria que meu lado humano deveria ser mais reconhecido e que sou o rapaz mais humano que
você já conheceu, você mesmo me disse uma vez. Mudando de assunto, meu gosto musical anda meio embaralhado, mas não vejo isso como algo ruim. Tenho sido aspirante a mpb, meio rock nacional e indie flow, e tudo isso com uma
dose de forró/ sertanejo e pop brasileiro. Meio confuso? Talvez. Minha percepção musical evoluiu milhões e minha mudança vocal está acontecendo. Minha voz aguda têm ficado mais grave e mais encorpada. Mudei de tenor para barítono como de 8 a 80, o que eu não achei tão ruim. Gosto dessa pegada mais grave com um pouco de agudo. Ainda escuto muito o Cicero
e alguns da Bossa Nova, estes são parte de mim. Quanto ao violão, ainda ando me arrastando, já que parei de praticar. O teclado nem se fala, parece que morreu e esqueceram de enterrar. É justo, já que não leio partituras a uns 3 anos?!
Pois bem, ainda continuo a frequentar o coral da igreja. Como eu poderia sair se o meu gosto
pela música aflorou naqueles bancos de madeira desde a infância. Aproposito, perdi o medo de cantar na frente dos outros por causa de suas dicas. Agora sempre que canto eu olho fixamente para algum canto e tudo sai como o planejado (mas ainda sinto um frio na barriga quando me mandam cantar sozinho). Quanto ao coral, estou ajudando os responsáveis com as
técnicas vocais e com a postura no canto, e adivinha, as crianças amam o Tio Arthur. Bem que tu disseste que eu tinha jeito pra professor, mas nunca imaginei ensinar os outros sobre cantar, nem eu mesmo achava que sabia fazer isso. Ainda escuto muito Vagalumes Cegos, aquela à qual eu te indiquei. É rotina nas minhas manhãs. Agora eu te pergunto, ainda anda cantando? Vi que você aprendeu a tocar violão e já tá cantando até de pedestal. Muito fino. Caso queira saber, continuo sim escrevendo. Meu perfil no Recanto das Letras é meio invisível, mas gosto disso, de não ser tão reconhecido. Te
escrevi algumas coisas lá, depois dê uma passada e leia e releia. Mês passado estive tão pertinho de ti, quase que mandei uma mensagem marcando um encontro, mas sei que deve estar sendo puxado o último ano pra você (ainda mais por ser
vestibulando de Medicina). Estive no Crato por alguns dias e depois desci para Lavras quando estava perto de ir embora. Passei em frente a ponte do Rio Salgado, foi lá que a gente se viu pela primeira vez, lembra? Parecia que eu estava vendo a gente planejando bobagem e morrendo de rir (lembro de você quase perdendo a pulseira que lhe dei também). Não me
esqueço que ainda teve uma sessão The Voice nossa cantando músicas apaixonadas um para o outro na beira do Salgado, que saudades disso.
Por fim, tudo têm continuado a mesma coisa. Acredito que coisas novas estão por vir e que estou amadurecendo a cada dia que passa. Até porque ninguém acorda um belo dia e se transforma em borboleta. Crescer é um processo. Tenho percebido que cresci e evolui muito desde abril de 2022. O que é maravilhoso. Espero que aconteça o mesmo com você, no seu
ritmo e no seu tempo, no seu processo. Não estude demais a ponto de ficar frustrado, você sabe que é capaz e que vai passar. Digo isso porque te conheço o bastante para afirmar isto.
Um abraço apertado, um beijo na testa e um aperto de mão nada secreto. Obrigado por me inspirar a escrever sempre belas cartas e poemas.
Arthur.