Céu de Camelias

O que te espera além do abismo insondável?

Ao redor de teu ataúde reúnem-se pessoas que jamais vi,

É possível observar efêmeros sentimentos que ainda não encontraram espaço no tempo a fim de que pudessem amadurecer

Discursos surgem, destes que nunca te dedicaram em vida.

Foste como te apresentava ali, vestida de cetim branco, com camélias nas mãos, humilde e despida de qualquer vaidade.

Em 5 dias voltaram a festejar a vida sem ti.

É tão cruel quanto a força das flores que desabrocham insistentemente nas sombras do teu modesto jazigo.

Me dói ver que o mundo segue na tua ausência.

A pálida face da morte sobre a tua pele gelada me causou terror...

Chorei quando me dei conta da desafortunada gente que lhe presenteava com pequenos arranjos cheios de vida, das tuas flores preferidas,

Estão todos condenados!

Como tu foste, como são eles, como também serei.

Imagino que mais tarde ou mesmo enquanto te pranteávamos com pesar,

atravessavas a ponte e tiveste o vislumbre de uma bela paisagem,

Talvez ainda ouças o chamado do vazio te acometendo, mais uma vez, como uma espécie de tontura,

Talvez encontres teus antigos amigos e alguns de teus parentes,

Lá, onde deuses possam te acalentar em tua dor, e a tua mãe possa segurar tuas mãos,

tuas belas mãos tão parecidas com as minhas,

A mim, fazes falta.

Talvez não haja nada além, mas guardo comigo teus dedais e teus lenços bordados, sinto teu perfume pela casa vez em quando.

Sinto-me orgulhosa em ter sido a última pessoa a dar-te o último gole d'agua,

Rogo com a discrição de uma péssima ateia para que te deixe partir daqui,

certa que de mim jamais partirá.

Cassia Hecari
Enviado por Cassia Hecari em 07/09/2023
Reeditado em 08/09/2023
Código do texto: T7880443
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