Querido 2007!

 

 

Quero dizer algumas palavras a você antes que se despeça de nós e se vá e não volte mais.

 

Quero dizer que adorei te conhecer. Adorei as conversas agradáveis em minha sala durante todo o ano. Adorei quando sentava à minha mesa e partilhávamos a sua presença e a refeição ficava mais saborosa. Adorei te receber feliz e contente, pois sabia que me retribuirias a confiança e a gentileza em dobro, porque eras um “gentleman”. Adorei compartilhar com você cada momento da minha vida, da vida de meus filhos, da vida de um esposo, dos netos, noras e genros. Foste realmente muito gentil e terno. Um lorde.

 

Quero dizer também que foi muito agradável conhecer a sua carranca, que não foi para uma carrannnnnnca, mas uma agradável face que demonstrou muita compreensão, satisfação, prazer nas pequenas coisas. Foi feliz conosco e nós com você. As expressões de tristeza ou de desconforto que vivemos juntos foram parte da negociação efetivada há muito tempo atrás e que você, com a sua paciência de Jó, soube nos ajudar a atravessar.

 

2007! Tua companhia durante esses trezentos e sessenta e cinco dias foram ótimos. Você nos trouxe a bênção de dois netos maravilhosos. A saúde do outro neto, do Jefferson, a alfabetização da Bruna, saúde dos meus filhos, a honestidade e a correção de caráter de cada filho, de cada nora de cada genro. Sabe? Os meus netos que chegaram com você, já estão quase andando e falando e, estão tão mexelões como só eles sabem ser. Curiosidade, então, nem se diga. Trouxe para esta família uma porção de coisas boas. A cunhada que fez um cirurgia grande mas que tudo foi ótimo. Os sobrinhos todos trabalhando ou estudando. Quer melhor? Os meus irmãos estão todos muito bem situados e de vento em popa.

 

2007...2007! Ao te acenar com a mão o adeus, quero acenar também com um muito obrigado. Não vou ficar feliz completamente, pois sei que se despede de nós com tristeza.

Você não conseguiu acabar com a fome do mundo e nem do meu país, nem com as guerras, nem com violência doméstica e a urbana.  Mas não se incomode. A culpa, não foi sua. Foi dos homens que não te deram o devido valor. Que aproveitaram sua presença para fazer o que não deviam em nome de ajudar, em nome de Deus que usaram em vão. O ano, por si só não faz nada sozinho. Precisa da sua equipe. Se esta falhar, tudo falha, não é mesmo?

 

2007, você ficará entre nós ainda algumas horas, alguns dias e, confesso a você, que muitas vezes desejei que fosses logo embora, para acabar com algumas insatisfações, algumas durezas, algumas amarguras.

 

Confesso a você, pois quero que se vá, deixando minha consciência limpa, e não quero que se vá pensando que tudo foi um mar de rosas, não! Chorei muito. Gritei muito em silêncio! Tive grandes medos. Nossa! Quantos medos! Medo até dizer que estava com medo. Acredita? Não queria te ofender, te magoar com meus problemas, minhas inquietações. Mas, realmente em alguns momentos o chão me faltou. Não!  Não se culpe, não! Nossas ações, nossas disputas, nosso egoísmo, nosso orgulho é que me fizeram e nos fizeram a todos, perder o chão! Quando perdemos o chão não temos onde nos equilibrar, não é mesmo? Mas você estava aqui e sereno aquentou tudo, viu tudo, assistiu a tudo e não esperneou, nem reclamou. Apenas esperou a hora de se ir.

 

Foi um lorde que entrou no mundo! E como lorde irá se despedir de nós. Vou estar junto a ti, te saudando, desejando-lhe feliz retorno a sua pátria – o Tempo. E como um lorde irá desejar ao seu sucessor que seja muito feliz, que realize o que você não conseguiu realizar. Desejará muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender. Estourará conosco o champanhe, a meia-noite ao som de Adeus Ano Velho e Feliz Ano Novo! Abraçar-nos-emos então com muita alegria, pois que nada foi perdido. Tudo continuará a ser.

 

Era o que eu queria te dizer. Abraço, amigo! Foi muito boa a convivência com você.