CARTA ESCRITA NA AREIA MOLHADA

 

 

Encontra-me depressa, porque sinto-me perdido na memória dos teus passos que o mar bravio não consegue apagar.  A caminhar na areia em círculos confusos mas não deixo pedras a marcar o caminho que devo seguir. Por isso ando... E ando por caminhos de ninguém. Por estradas que não me levam a lado nenhum ou então a lugares exaustivamente explorados. Faço o percurso sozinho ou abraçado aos restos de alguém na esperança que esta peregrinação possa fazer algum sentido. Mas o mundo graceja e chama-me de louco só porque te amo assim... Porque quero te ver feliz mais do que a mim próprio e como dizer-te adeus é definitivo demais os “até breve” vão-se alternando com noites mal dormidas. A areia está fria porque o sol já não a aquece com o seu calor e os búzios da praia calaram a sua voz para poderem me ouvir chorar de mansinho. Repouso por momentos... Talvez esteja cansado... Talvez queira simplesmente desistir de te procurar em todos os buracos onde podes te esconder. Sinto que deformo a minha natureza quando escavo a alma com as mãos e nada encontro porque há muito tempo sei que ela é um vazio maior. São frases confusas as que debito aqui.... Não faz mal cobras-me uma certeza da próxima vez que me vires sorrindo com um botão de rosa sangrando no peito. Porque eu sangro ... Sim porque eu sangro com as flores que se pintam de orvalho vermelho para sentir o pôr do sol e nas lágrimas que escrevo tenho o retrato mais bonito da dor que nenhum pintor nos teus olhos ousou recriar.

 

 

Escrito em 31/01/2023