Para o silêncio que assola minha casa após sua ida

O silêncio da nossa casa após a sua ida é dilacerador. Consigo ouvir cada movimento, pensamento e até mesmo as minúsculas gotículas de água da pia pela casa vazia. O vento que adentra pela janela já não refresca mais meu ser, até mesmo o próprio ar já não se faz o suficiente para que eu consiga respirar com paz.

Queria poder escrever sobre como estou sendo resiliente e em como a dor ensina mais que machuca. Mas a quem eu estaria enganando quando tudo que eu sinto após sua ida é um silêncio excruciante? Gostaria de poder levantar com forças o suficiente para poder repintar todas as paredes, que em outrora fora pintada de Nós, mas que agora apenas aponta os requisitos do éramos e planejávamos ser.

Olho para todas as fotos espalhadas pela casa, olho para nossa antiga coleção de canecas de gatos, para as almofadas com capas chamativas demais para serem escolhidas por mim, mas que esbanjavam paz quando você estava aqui. É quase como se sua ida fizesse com que tudo que eu conhecia, conheço e planejei conhecer se tornasse vazio, oco e pó.

Queria poder te perguntar se minha ausência também está te ferindo dessa forma, queria poder te perguntar o que todo o caos que era acompanhado por mim te causou, queria apenas ouvir sua voz mais uma vez.

O que mais me dói no silêncio inebriante que se instaurou no meu ser são as lembranças que ele traz. Tenho medo de fechar os olhos e te ver sorrindo correndo atrás da Panqueca, nossa gatinha vesga, tenho medo de ouvir sua gargalhada, seu cabelo preto.

Tenho medo de te ver e me quebrar ainda mais.

Queria poder entender o silêncio da sua partida. Como está do seu lado? As noites ainda são dolorosas pra você? As novas bocas que você andou beijando, conseguiram, finalmente, preencher o vazio que se assolou na sua alma? As camas que deitou, estão mais quentes que a minha?

A minha algum dia foi?

Queria poder explodir e te perguntar todas essas palavras vazias que insistem em assolar meus pensamentos noites afim. Mas o silêncio da sua ida me incapacita, me deixa estagnada e presa a ti.

Ao nosso antigo nós.

Tenho medo do silêncio que habita meu âmago após sua ida.