Carta sobre um festival de filmes científicos

CARTA SOBRE UM FESTIVAL DE FILMES CIENTÍFICOS

Miguel Carqueija

Mais uma vez foi exibido, no auditório do “Globo”, o Festival do Filme Científico. Essa mostra é anual e dura poucos dias, exibindo produções novas; as dos anos anteriores, não sei como poderiam ser de novo vistas pelo público.

Enquanto isso a pornografia mais suja — que exibe até o criminoso sexo com animais (bestialidade) — domina grande parte de nossos cinemas. A cada semana ocorre a estreia de pelo menos uma e às vezes até quatro dessas nojeiras. Isso quer dizer que a obscenidade prolifera livremente e a cultura sofre restrições. O povo brasileiro, porém, não tem o baixo nível que pretendem os corifeus da libertinagem. Ele precisa de opções. Aliás isso tem algo a ver com o conceito de liberdade: invocam essa palavra para que a maldade transite livremente; em contrapartida, a inocência é que é reprimida. Será isso liberdade?

“O Globo” prestará inestimável serviço se mantiver sessão permanente de filme científico — a mostra anual trará os novos, no resto do ano passarão os antigos — mesmo que para isso seja cobrado ingresso. Valerá a pena: é melhor pagar para ver Ciência que indecência.

Rio de Janeiro, 21 de setembro de 1985.

NOTAS:

1) No meu caderno o manuscrito dessa carta enviada para o jornal “O Globo” (Rio de Janeiro) tem a anotação de que a mesma foi publicada parcialmente. É provável, já não lembro, que a parte de libelo contra a pornografia tenha sido cortada...

2) Não tenho conhecimento de por quantos anos ainda foi exibido esse tipo de programação no citado jornal.