Uma carta aberta

Endereço essa carta àqueles que conheceram um alguém desconhecido.

Um alguém moldável e que não sabia o que era a vida.

Endereço essa carta aos que por vezes se viram na presença de um ser mutável, mas que não assumia ser.

Uma espécie de camaleão talvez

ou talvez isso até seja elogio ao se tratar desse alguém.

Um alguém que eu não deveria culpar, mas que deveria se culpar e não o fez.

Talvez não seja tão mal assim...

se pensar que as borboletas não se reconhecem como casulos, mas não deixou de ter sido uma fase pertinente para sua evolução.

Ou até mesmo o marisco

que a concha não define quem é, mas sim uma fase da sua vida.

Independente da analogia

a metamorfose desse alguém foi difícil.

Alguns chamam esse tal estágio de monstro,

Já eu ficaria satisfeita em discordar dessa nomeação,

mas infelizmente não vejo nenhum nome mais congruente.

No mais, esse alguém desconhecido poupou-me experiências desagradáveis vivendo-as por mim.

No entanto criou experiências desconfortáveis as quais eu não precisava ter.

Nenhum ser passa despercebido na Terra,

nem mesmo aquela lagarta que ainda não se transformou,

E talvez nem tudo que esse alguém desconhecido tenha feito

seja realmente ruim e desnecessário.

Convido-os a ver o desenho lindo que a senhora lagarta deixou no caminho antes de acabar com as folhas do jardim,

ou até mesmo em ver a borboleta que a dona lagarta se tornou.

Na verdade,

convido-me a parar de olhar um jardim que nem estou mais.

Talvez essa carta não seja para quem conheceu um alguém desconhecido...

Talvez seja para o alguém que agora se conhece.