Cartas Perdidas de Ocelot I - 2

Querida Dulcélia,

Recebi com muita alegria sua carta. Acabei de lê-la e não fui capaz de esperar para lhe responder.

Fico imensamente feliz em saber que nosso bebê continua crescendo com saúde em sua barriga. Não posso conter em mim tamanha gratidão pela forma como meu tio tem cuidado bem de você em terras estrangeiras. Mande-lhe lembranças de minha parte, além disso, estarei enviando com esta carta as Nozes de Tundra que ele tanto gosta.

Infelizmente, não tenho boas notícias daqui. Os embates entre os exércitos dos três principados têm se tornado mais constantes por estas bandas. Claro que ainda somos pequenos demais para sermos notados, mas os reflexos da guerra já chegam até nós. Mais de um terço do bosque foi derrubado para alimentar as fogueiras dos combatentes e as águas do rio amanheceram rubras há dois dias.

Porém, o que piorou nossa situação foi a morte de Nazir, nosso empregado que cuidava da segurança das ovelhas. Meus homens relataram que ele fazia a ronda mais ao sul da montanha e acabou caindo em uma armadilha típica dos Irelianos. Não pudemos recuperar seu corpo para um sepultamento digno, isso arrasou com sua esposa e filha. Foi de partir o coração. Então, não poderia mais adiar a viagem das mulheres e crianças daqui, a situação fica cada dia mais insustentável para elas, amanhã estarão partindo para o extremo norte com alguns homens de escolta. Estarão mais seguras em nossa velha casa de inverno, creio eu.

Há outra coisa que preciso lhe contar, um segredo que não consigo mais guardar apenas comigo. Hesgar, o velho que cuida do celeiro me contou algo dias atrás. Ele me disse que dez anos atrás, numa noite chuvosa de verão, três viajantes passavam por nossas terras e pediram abrigo, pois estavam exaustos da caminhada. O velho, com pena, deixou que dormissem no celeiro mesmo e na manhã seguinte eles foram embora bem cedo. Hesgar nunca havia dito isso ao meu pai, quando ele era dono destas terras, disse que não achou que fosse importante. Porém, quando conversávamos sobre a guerra, lhe falei sobre o assassinato do herdeiro de Omdoria II e disse que eram três os assassinos descobertos há dez anos atrás, só então ele resolveu me falar.

Dulce, se o que penso for verdade, talvez tenhamos dado pousada para os assassinos do filho de Omdoria. Seríamos cúmplices desse homicídio. E levando em consideração que o auge da guerra aconteceu por causa desse ocorrido, parte da culpa seria nossa. Muita gente gostaria de nos retaliar. Se for mesmo verdade.

Querida, me desculpe lhe falar essas coisas, mas não poderia guardar comigo para sempre. Você sempre foi minha confidente e sempre será.

Com muitas saudades,

Seu amado, Ormano.

M Henrique
Enviado por M Henrique em 17/04/2024
Código do texto: T8043803
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