Meu Pai... Meu Tudo...

Interessante é o convívio em nossa casa quando somos solteiras. A cada dia aprendemos e desaprendemos. Crescemos plenas de personalidades, cheias de sonhos e esperançosas como eu e minha irmã.

Herdamos, pai, sob teu comando amável, como se fosse uma dama, tudo o que sabemos e vivemos hoje.

Porém, teus olhos verdes e um tanto tristes falavam o que sentias: muito zelo pela família e preocupações com o dia-a-dia.

Teu sorriso, por vezes, alegre quando fazíamos algumas gracinhas te fazias feliz por alguns momentos.

Porém, eu te sentia amargurado... cabisbaixo... e porque não dizer humilhado pela vida difícil que levávamos. Quantas vezes, lembras pai, corríamos pra casa de nossa tia em busca de ajuda financeira, todavia, muitos passam por essa situação... é a vida...

Mesmo assim, quantas saudades indescritíveis, porque sempre as sinto aqui, bem dentro de mim!

Lembras daquele almoço memorável que só tu sabias fazer! Hum! Delícia! Eta, macarrão no forno gostoso, cobertinho de bifes à milanesa com bastante queijo a derreter. Foi um dia lindo, comemorávamos seu aniversário de sessenta e um anos (1989) a contento, pois junto aquela mesa farta que sabias arrumar com tanto gosto e requinte nos deliciamos a valer junto a ti, mamãe, genros netos.

É, pai, foi um dia inesquecível aquele, por ser o último que vivenciamos.

Cinco meses depois te perdemos e não penses que não sofremos. Eu, até hoje, não sei por que não chorei? Mamãe aguentou calada para nos confortar, mas eu via muita tristeza naquele olhar espantando, talvez por não querer acreditar...

Acompanhei tuas dores fortes nos braços fracos e remédios demais... em quantidades absurdas.

E, o médico dizia "essas dores são normais, tu já estais na idade do 'CONDOR', dor aqui... ali... acolá", mas que brincadeira de mau gosto! Será que não viu o pulmão doente...

É, te perdi cedo, ainda na flor da idade, porque pai e mãe não podem morrer, isto é, não deveriam... pois o amor que os filhos sentem é tão grande que, de repente, quando "ELA" chega de mansinho, depois da dor tão sofrida, sentimo-nos como uma flor linda que perde suas pétalas por falta de carinho, água e atenção.

Esta perda, irreparável, se torna céu sem estrelas, noite sem luar e aquele mar sem ondas pra surfar.

Hoje, tu completarias oitenta anos e eu te queria aqui, perto de mim, mesmo com aquele olhar falante de anos atrás e o sorriso limpo, divertido, radiante... E, talvez, quem sabe, já velhinho, andando com dificuldades, mas feliz e comigo pra cuidar de ti.

Não sei se, infelizmente... ou felizmente..., "ELE", o nosso PAI MAIOR, levou as duas pessoas que me deram a vida, educação, carinho... me ensinando a respeitar, ser humilde e compreensiva com o ser humano. Virtudes, estas, que adquiri e das quais muito me orgulho.

Sabe, Pai,algumas pessoas dizem que "não devemos perguntar aos céus por que aconteceu, mas sim, para que..." Será verdade? Não sei...

De repente, por um momento, estou sendo egoísta, não é?

Peço-te que leias esta carta da tua filha amada, querida, triste e feliz para as pessoas que estão ao teu lado, porque certamente, vais ajudá-las a trilhar nesse caminho florido que percorres a semear carinho e amor.

Lê, pai, lê a minha cartinha pra mamãe também. Garanto que ela vai gostar... E sei que ao final, todos vão aplaudir e te parabenizar, não só pelos teus oitenta anos, mas também por ver a felicidade estampada em teu rosto por receberes uma mensagem da tua filha que te ama e sente a tua falta.

Não fiques triste por eu estar ausente desta festa, pois qualquer dia a gente mata a saudade!

Até breve, PAI SYLVIO REZENDE!

13/ 01/ 2008