Me Ame Mamãe - O Aborto Visto de Dentro

Mãe

Se minhas mãozinhas ainda não se dobram em uma prece, por favor, ouça a voz de meu coração.

Se meus olhos não vêem seu interior, acredite que te conheço mais do que você mesmo.

Acredita que meu coração palpita no mesmo ritmo que o seu?

Acredita que suas lágrimas também me fazem entristecer?

Pois é, com tão pouco tempo de vida, tão pouco tempo em você, já sei quando está triste, quando se sente culpada, ou quando está indecisa, com medo do que vai fazer.

E é exatamente isso, que sinto agora.

Você, está deitada, chorando, e parece não se importar mais comigo.

De repente, sinto que você adormece, e por mais que eu tente te chamar, minhas cordas vocais ainda não produzem som algum.

Alguém está te machucando, pois sinto que seu corpo se contorce, embora você ainda esteja adormecendo.

Será que está sonhando comigo?

Mas percebo, que talvez, eu nem esteja em sonhos.

Talvez, eu nem esteja em seus planos.

Percebo isso, quando um pequeno tubo, invade o que eu, por muito tempo, chamei de lar: Seu útero.

Tento gritar por socorro, e novamente, minhas cordas vocais me traem

Tento espernear, tento me defender, mas meus membros ainda mal se formaram.

Pedaço a pedaço, meu corpo vai se desmanchando, e, cada vez mais fraco, eu tento resistir a essa tortura.

E, quando ainda sobrava-me um pouco do que fui, desperdicei meus últimos momentos de vida, pensando.

Pensei.

Pensei nos meus primeiros passos, quando trôpego, andaria em sua direção, agarrando-me aos móveis.

Pensei, nas minhas primeiras palavras, se, uma delas seria Mamãe, ou se Papai ficaria mais contente, ao me ouvir dizendo Papá.

Pensei, em meu primeiro dia de aula, quando ficaria agarrado a sua perna, morrendo de medo daqueles meninos estranhos que me olhariam como se fosse um ET.

Fiquei pensando, em como reagiria quando eu pudesse escrever minha primeira palavra, e não sei se surpreenderia, mas preferiria escrever o seu nome, do que o meu.

Pensei nos meus tombos de bicicleta, quando você estaria sempre por perto, para me confortar.

Pensei nos dias em que correria na chuva, pularia em poças d'água, e ficaria horas, ouvindo o seu sermão.

Pensei, no meu primeiro beijo, e como seria se você fosse a primeira a saber dele.

Como seria a minha primeira formatura, como você me aplaudindo lá de longe?

Será que iria chorar também como as outras mães, cheias de orgulho, assoviando alto e gritando meu nome?

Ah mamãe, como seria bom!

Seria bom ter você sempre por perto, pra me aconselhar quando preciso, pra me dar umas palmadas mesmo quando lhe doeria fazer isso, como seria bom.

Seria bom sair e te ver lá na janela, acenando e dizendo pra eu tomar cuidado, pedindo a Deus que me acompanhasse e guiasse meus passos.

Seria bom te ver todas as noites, antes de dormir, quando você passaria em minha cama, me faria um afago qualquer e me beijasse a testa antes de me cobrir.

Seria bom acordar toda a manhã, tomar café contigo e falar sobre o que sonhei a noite.

Seria bom correr pra sua cama quando tivesse um pesadelo, e ali, me sentir seguro contra qualquer coisa que quisesse morar embaixo de minha cama.

Seria bom viajarmos a praia, e você me segurar pelos quadris, me jogando pro alto a cada onda que viesse em nossa direção, e ficar preocupada quando eu engolisse uma gota de água salgada.

Seria bom o Natal e Ano Novo ao seu lado, os brindes que fariam e que me deixariam beber champanha, fazendo-me sentir adulto e importante.

Seria bom se me fizesse acreditar em Papai Noel, Fada do dente e tudo mais que uma criança precisa acreditar.

Seria tudo muito bom....

Mas já não posso pensar

Aquele tubinho que invadiu a minha casa, está agora a sugar meu cérebro, e como se fizesse de propósito, está o fazendo bem agora que imaginei o teu lindo rosto.

Como seria?

Mamar em teu colo, saciar minha sede de vida e minha fome de afeto.

Não saberei nunca.

Mas peça a ele mamãezinha, que ao menos, deixe meu coração bater mais um pouco.

Para que meu ultimo sentimento não seja a revolta, mas sim o amor incondicional que sinto por você, mesmo que talvez você não possa fazer o mesmo.

Escuta meu coração pela ultima vez mamãe:

Tum-tum...tum-tum.. - Te Amo - ...tum....tum.....tu...........t............

Dedico este texto a minha mãe.

Eliete Cristina de Carvalho.

Por ela ter me deixado ver e sentir tudo o que o feto que citei acima, não pode sentir ou ver.

Para que ela saiba que sou grato pela vida que me deu.

Pela educação e por cada sacrificio.

Talvez alguns de meus atos não a tenham orgulhado tanto.

Mas cada briga foi essencial para que nosso relacionamento fosse como é hoje.

Mãe.

Você não é só a mulher que lutou contra tudo e contra todos pra me ver nesse mundo.

Você é a mulher que me apresentou a esse Mundo, e me ensinou a caminhar nele.

A mulher que ficava horas em pé ao lado de meu berço, e esperava até que eu parasse de chorar para ir dormir, mesmo que só o fizesse por no máximo vinte minutos.

A mulher que sempre soube do que eu precisava, e se desdobrava em mil, para fazer minhas vontades e caprichos.

É você Mamãe.

Peço perdão por todas as vezes em que chorou por minha culpa, e desejo do fundo do meu coração que não o faça mais.

Só queria que soubesse, que Te Amo acima de tudo.

E que se existe alguém que tenha o dom de me fazer sorrir mesmo quando minh'alma precisa chorar, esse alguém é você Mãe.

Por tudo e em tudo....Eu te Amo!