O MEU SUICÍDIO

Considerações sobre o porquê do meu suicídio.

Aos amigos que lêem não peço que compreendam, tampouco faço apologia em favor de tal ato, apenas enumero e evidencio causas e conseqüências intrinsicas das quais não sou culpado nem vitima, apenas peça de um sistema, de um quebra-cabeças que culminou no fim dos meus dias, para futuramente um possível reencontro, quem sabe?

Aos meus amigos e familiares

Bragança Paulista, 17 de março de 2008.

Infelizmente a experiência aos poucos me ensinou ser vão e fútil com o decorrer dos dias, e nessa mesma rotina que minha vidinha cotidiana encerra acumulo vícios, receios, desventuras que nada buscam além do passar do tempo, o esfriar do ânimo, e o febril na testa.

Hoje completo 25 anos de idade, e nessa data querida resolvi enfim, indagar se eu, de fato, existo. E dependendo da resposta obtida, darei à própria vida cabo.

Digo que resolvi enfim porque para alguns parece loucura tal ato, devo admitir que muitas vezes, quando um fluido de covardia sorrateiramente aditivado à minha alma fazia com que eu analisasse os fatos, muitas vezes julguei meu suicídio um ato insensato. Julgava insano deixar uma coisa certa, como é a vida, por uma outra coisa duvidosa que nunca fora experimentada.

E o que pensará minha família? Como eles reagirão ao se confrontarem com tal ato? ( mas isso é um outro fardo, que neste instante, não quero considerar).

Fraqueza de espírito, talvez, quem sabe?

Reconheço que vejo nas comodidades que são adquiridas através das riquezas, e elevando-se sobre a honra tudo aquilo que sempre julguei necessário, e que careceria desses itens, nessa mesma ordem para atingir a suprema felicidade.

Eu até que tentei, por vezes, interiormente questionei esses princípios buscando respostas em doutrinas religiosas, tentando assim mudar a ordem e a conduta comum de minha existência indecorosa, mas foi em vão...sobretudo, porque meus deuses comercializavam em dólar.

Ponderava, portanto, com a minha ingenuidade, se seria possível mudar a ideologia dos homens que resumem tudo como bem supremo, o resultado de 3 itens, respectivamente nessa mesma ordem: as Riquezas, as Honras e o Sexo.

Sexo que distrai os meus dias,isso é bem verdade, funciona como alucinógeno e após refestelar-me em seus caprichos segue-se um curto período, um espaço de tempo onde a tristeza é a insígnia obscura que toma posse do meu corpo e a minha mente arrebata. Deveras, essa tristeza seja motivada pela busca dum amor sincero, que nunca obtive, mas sempre buscado porque ele produz um êxtase único, êxtase, que por ele sacrificaria toda minha errante vida, por algumas horas do seu contagio.

Mas deixei de lado tal busca,dedicando-me inteiramente à procura de riquezas, e por estas riquezas desvirtuei meus caminhos, além do mais, estou sempre incitado a aumentá-las, tornando assim meus caminhos atalhos cada vez mais difusos, tornando assim minha mente cada vez mais perturbada.

Por conseguinte, a honra representa um script que devo seguir, julgando seus conceitos úteis a todos os homens, e por ora, negando minha própria vontade.

Mas hoje tudo foi diferente, finalmente decidi ser obediente à minha natureza e à minha vontade, visto que, somente minha natureza é conhecedora do meu estado de espírito, porque sua concepção é a união entre meu corpo e minha alma, alma que decifra os signos um a um em meu corpo alojados, sendo assim, serei obediente aos seus desígnios, pois qualquer médico do mundo analisa apenas a "casca", nunca o que o interior abriga.Por esse motivo renuncio toda medicina científica e falha.

E obedecerei minha vontade, essa vontade que se extende muito além, indo muito longe do intelecto, por isso não me importo se disserem que foi uma decisão burra. Essa vontade é livre, está inserida na alma sendo que é determinada por causas adventícias inerentes à sua vontade.

Por vezes indaguei o porquê da minha alma consentir com o suicídio, por que minha alma quer isto e não aquilo?

E cheguei à conclusão óbvia de que a alma é única coisa pensante detentora do poder de querer e de negar, sendo assim se a própria vida está inserida na sua naturalidade, podem dizer que foi covardia, lamentarem o fato, mas acima de tudo, quero que saibam que apenas foi respeitado o querer de uma alma desiludida que resolveu abandonar um corpo mecanizado.

E o julgamento do ato que cometi, deixo para os homens sábios que sempre duvidarão do que se apresenta como a verdade única, que sempre contestarão os fatos apresentados.

...adeus

Marcelo Lopes
Enviado por Marcelo Lopes em 17/03/2008
Reeditado em 27/03/2008
Código do texto: T905400