= CARTA DE NIVER 2 =

Você é uma entidade do tempo. Porque você o venera e ele te oferece respaldo, te acolhe e dá confiança.

Você conta o tempo de uma amizade e coleciona aniversários seus, dos que ama, daquilo que ama, das coisas que te aconteceram, dos fatos do mundo.

E conforme esse critério (tempo contado, aniversários contabilizados) não estou habilitada a ser sua amiga. Sou uma pessoa que você conhece - vagamente - a partir das poucas histórias pouco interessantes que nos circundam e constroem nossa amizade futura. Quando o tempo der o seu aval, você me chamará de amiga. Espero até lá não ter sido presa, nem multada, quem sabe ficar menos mal falada para que então eu tenha as credenciais sociais para ser chamada de boa pessoa. Espero ficar rica, isso, trará boas informações de todos os lados rsrsrssr (e-mails podem e devem conter rsrsrssrsr).

Pois então que para algumas pessoas nós não somos amigas, porque elas têm mais tempo na sua estrada, elas enfeitam ou enfeiam, conforme o contexto, as suas paisagens por mais tempo que eu as enfeito ou enfeio. A gente que tem amigos sabe, que por mais amigas e boas pessoas que o amigos sejam, haverá sempre o dia ou o momento do vacilo. Aí está a vantagem de se ter pouco tempo de casa: menos oportunidades de vacilar, menos vacilos contabilizados.

E se nós não estivermos sempre juntos, poderíamos medir a amizade pelo tempo, tamanho, constância da saudade?

Pela presença da ausência que faz falta?

Pela insistência das lembranças quando nos perguntamos:

-"porra fulano sumiu?"

-"o que terá sido feito dele?"

-"Fulano é legal, porque a gente se vê tão pouco"?

Essas são questões amiguinha, que me assaltam, não por nada, só porque você menciona o tempo e mensura muitas vezes por ele e esse tempo se não conspira contra mim, em nada me favorece.

Então penso, que um dia vai ter um tempão que a gente se conhece e, para mim, até já tem. Eu sou contra o tempo porque ele me envelhece. Mas sou fã dele porque ele me fez o que sou e eu gosto muito do que sou, embora não concorde com o que tive que passar para ficar assim. Às vezes, quase sempre, a cura é boa e o remédio não tem bom sabor. Fazer o quê?

Continuo sendo a pessoa que se joga de cabeça por isso aprendi a fazer remendos. Continuo sendo uma pessoa que corre riscos e como não gosto de fracassos, insisto até que dê certo e para isso, aprendi a ser flexível, com isso descobri que flexibilidade não pressupõe alterações de personalidade.

Prefiro o riso ao choro, então busco chorar pouco e pra chorar pouco tenho que errar menos e quando o erro ocorre busco rápido o que pode ter de saldo positivo.

Li doutrinas espíritas que dizem que "a vida é uma passagem", percebo que a minha não é necessariamente de primeira classe, mas é um luxo!

Divago sim! Penso que eu deveria ter sido apenas mais um cliente, que não tínhamos muito mais para estar perto ou presente, no entanto a "relação" foi além das expectativas comerciais. Por que?

O mundo anda mal de qualidades humanas e toda que achamos é quase que inevitável a necessidade de mantermos por perto.

agosto/2007

Deusa Urbana
Enviado por Deusa Urbana em 22/03/2008
Reeditado em 02/09/2017
Código do texto: T912169
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.