= CARTA DE NIVER 1=

Eu sei que seria e será preciso muito tempo para que muitas coisas aconteçam. O ser humano em princípio pertence à natureza e os processos naturais são lentos e gradativos no que diz respeito à evolução das espécies, processos de formação de minerais. Mas também sei que algumas espécies depois de criadas vivem por horas apenas. Suas vidas são ciclos rápidos e são vistos pelos humanos como pragas, tal a velocidade dos seus processos biológicos, inclua-se aí a reprodução. Nós humanos tendemos a desprezar tudo o que é demais. Já dizem os velhos ditados: "Tudo que é demais enjoa", "água demais mata a planta", "santo de casa não faz milagres."

Eu sei que amizade para muitos está ligada às coisas que sequer podem assemelhar-se à amizade. Hoje amigo é o parceiro de copo, balada, trampo. E o parceiro de corpo? Como fica essa expressão usada pelo poeta, num tempo em que criamos o "ficar", o "se conhecendo"? Certamente essas coisas não nos remetem à amizade nem mesmo ao amor... Queria ter na minha vida em forma de amizade tudo, todos e tantos que tive na forma do que me disseram ser "amor"...

Eu sei que hoje não é o melhor dia para se dizer isso. Mas haveria melhor dia? Amanhã é seu aniversário. E por que digo? Treinamento contínuo para a Filosofia, uma faculdade que pretendo iniciar quando completar 50 anos...

Eu estou escrevendo um livro que se chamará "cartas para todos". Não, não é um manual que ensina técnicas de correspondência, é um livro onde estarão as cartas que eu gostaria de ter mandado para as pessoas, muitas delas até desconhecidas, imaginárias e para a porção imaginária das pessoas que conheço, ah, e e-mails também... Parte da minha parte Lya Luft desletrada, desregrada, transloucada.

É madrugada, eu recebi seu convite para a comemoração num barzinho que eu falei para mim mesma que jamais lá voltaria. No entanto estou disposta a ir, você merece, não tanto a minha visita, que isso é careta e cafona quiçá artificial. Pois que, num dia como este pode ser que lá estejam as pessoas que acham ser obrigação estar presentes no evento social (do que adiantam tantas presenças se os corações lá não estiverem da maneira mais positiva e por carinho?). Não! De forma alguma julgo os presentes? O que quero dizer é que o evento em si não é importante, mas sim a ocasião de se estar junto matando a saudade e atropelando a pressa que nos atropela diariamente. O que se sobrepõe a tudo isso é: você merece o meu respeito e por isso vou. E aí, entram essas questões de pura reflexão de um ser à toa e notívago por questão de hábitos milenares a alheios à minha vontade.

(continua...)

Deusa Urbana
Enviado por Deusa Urbana em 22/03/2008
Reeditado em 02/09/2017
Código do texto: T912170
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