Ouve o que eu tenho para lhe falar

Vem para cama mais cedo, meu bem. Quero aninhar-me nos teus braços e contar como foi meu dia. As mesmas pessoas insípidas, os mesmos rostos frios, as mesmas conversas medíocres, sinto vertigens só por lembrar. Há algo nisso tudo que me revira o estômago. Tem dias em que estou tão farta dessa absurda repetição, desse martírio lento, que o meu desejo é deitar no meio da rua. Mas há um problema, um problema enorme, um problema por demais sério. Fatalmente eles pisariam em mim e não ouviriam meus gemidos, coisa rotineira, aliás. Contudo, se acabarem comigo por completo, como voltarei para casa?

Não me sinto propensa a perder a visão dos teus olhos, que mais parecem bebida forte, pois conseguem embriagar-me, e neste momento, totalmente ébria por culpa deles, eu vivo, e não somente existo. Como ficarei sem o gosto da tua boca e das palavras reconfortantes que saem dela? O toque do teu corpo no meu suscita em mim uma mistura de sentimentos que me tornam incapaz de conseguir descrevê-los por palavras. Todos os verbetes do dicionário seriam insuficientes para exprimir minha emoção no momento em que te sinto. Vê agora como estou menos amarga?

As mudanças que bailam em meu espírito por tua causa são incríveis. Logo eu, que julgava ser incapaz de sentir tamanho sentimento por alguém, fui flechada pelo cupido, fui tomada por um estado de graça que sacudiria a terra, se fosse seu intento. Queimei a língua, não nego, entretanto, nunca estive tão feliz por estar errada. Sinto-me capaz de aguentar o peso do mundo nos ombros, de transpor cada obstáculo à minha frente, contanto que permaneças junto à mim , que me encantes com seu sorriso.

Agora dormirei sossegada, enquanto estiveres do meu lado, enquanto teus braços me enlaçarem, o bicho-papão ficará do lado de fora.