Carta para a musa sumida

Karla:

Faz 24 horas que não recebo nenhum e-mail seu. Aborreceu-se, deletou toda a minha memória do seu PC. Fico até com medo de perguntar: "Para quando foi marcado o meu enterro no seu coração?"

Sem notícias de você, eu me atrapalho todo, entro em parafuso... Levantei-me às cinco da madruga, corri para o PC, abri a minha caixa de entrada e...nada de você!

Me aporrinhei!... O cachorro veio me lamber, dei-lhe uma bisca nas orelhas, o gato veio esfregar-se nas minhas pernas, empurrei-o para lá, tomei meu café muito mal-humorado, não li o jornal do dia, nem liguei a TV para ver se algum juiz ou desembargador, a exemplo do que fizeram com o Pimenta (aquele coroa safadão que matou covardemente a namorada só porque não dava mais no couro com ela e por isso a menina procurava sangue novo), libertou o casal de desgraçados que jogaram a Isabela pela janela, sob a alegação de que "sofrem de claustrofobia e, portanto, não podem ficar em recintos fechados". Ah, se eu fosse um safado advogado criminalista, todos os meus clientes seriam claustrófobos em alto grau!

Mas, divago... Isso não vem ao caso...

Sem notícias de você, as coisas ao meu redor perdem a graça... A minha loura vizinha, como de costume, veio enxugar o orvalho do carro, vestida de fina camisola, e eu não gritei, debochado: “Oi, gostosa!...” E, por Deus e todos os diabos, hoje nem procedi à excitante investigação visual sobre a cor e o tamanho da sua calcinha!...

Ela estranhou... Olhou para cima, para o meu apartamento, e me viu olhando mais para cima ainda. Para as nuvens, com ar de besta... Talvez tenha pensado: “Terá acordado abestado ou virou boiola, o meu vizinho tarado?”

Nem um nem outro. Estou desconectado do meu Site Coração. O seu e-mail, que tem a senha para abri-lo, ainda não chegou.

Julius

Santiago Cabral
Enviado por Santiago Cabral em 19/05/2008
Reeditado em 05/03/2011
Código do texto: T995571
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