SERIA CÔMICO SE NÃO FOSSE TRÁGICO !

Vou lhes contar uma história que aconteceu comigo, e desde já, apesar de falar da minha “intimidade mais íntima”, asseguro-lhes de que não se trata de um conto erótico!

Ocorre que por ser portador de uma afecção que atinge boa parte dos garotos, a conhecidíssima FIMOSE, sempre tive alguns problemas decorrentes desse incômodo capuz.

Lembro-me que uma vez, quando criança, ao vestir uma calça jeans sem estar usando uma peça de baixo, o zíper prendeu a referida pele, forçando-me a ter que recorrer aos préstimos de minha querida mãe, que com todo cuidado livrou-me daquela situação tão dolorosa!

Por volta do ano 2000, já com quase 40 anos, resolvi dar um fim a todos aqueles inconvenientes decorrentes da fimose!

Fui ao Dr. Sardinha, urologista renomado, para uma consulta preliminar. Ele examinou pra lá, examinou pra cá, arregaçou a danada e finalmente sentenciou: “ é, temos que passar a faca! “.

Confesso que me deu um nó na garganta e um frio na boca do estômago. Sabe quando nós damos aquela engolida em seco? Aquele “glup”? Foi assim que eu saí da consulta. Cheio de dúvidas. Faço ou não faço? E se o cara cortar demais? E se eu não me acostumar com a cara dela depois? Não terei como voltar!

Bom, marcada a cirurgia, no dia combinado eu estava lá. Duas horas antes, para não perder o costume. Se um dia um avião em que eu for viajar tiver de cair, com certeza cairei com ele, pois, nunca perco nada por ter me atrasado. Muito pelo contrário, chego sempre bem mais cedo, e foi assim no dia da bendita cirurgia!

Apresentei o meu cartão do plano de saúde, plano este que eu havia feito alguns meses antes, já pensando nesta cirurgia!

Toda a parte burocrática resolvida, me indicaram um enfermeiro que me levaria a uma saleta para que eu trocasse a roupa.

O enfermeiro, muito cordato, me levou ao local determinado. Chegando lá, ele disse: “ êita, vai ser difícil encontrar uma bata do seu tamanho (àquela época eu ainda media 1.92m). Ao me entregar uma bata, falou: “tire toda a roupa e vista essa aqui!”. E ficou ali, parado feito um dois de paus, olhando para mim. Eu, que já estava desconfiado dele, sem querer demonstrar vergonha, me virei e comecei a tirar a minha roupa enquanto ele perguntava: “vai se operar de quê?. E eu todo acabrunhado respondi baixinho: de fimose. Ele, como quem não tivesse ouvido, perguntou de novo: “de quê?. Eu respondi um pouco mais alto: de fimose. Então, ele espantado, falou: “vixe, um homem desse tamanho? Eu já vi muito menino passar por aqui, mas um homem feito, nunca vi !!!

Parece que isso o excitou, pois, ficou num pé e noutro para ver a danada da minha fimose! E Eu, por vingança, não dei brecha! O máximo que ele viu foi um pedaço da minha bunda branca e murcha!

Quando coloquei a bata, que desespero, Faltava pouco para aparecerem os ovos! Foi ridículo! E mais, eu teria que sair dali em uma cadeira de rodas, passando por um corredor cheio de gente, e tomar um elevador para o terceiro andar, já que estávamos no térreo!

Ao sair da saleta encontrei meus pais, que tinham vindo para me dar uma força. Minha mulher não tinha vindo. Acho que ela estava chateada, pois, iriam cortar o meu bigulinho!

Saí, eu na cadeira de rodas e o enfermeiro a me transportar pelos corredores. Ao chegarmos à porta do elevador, uma correria enorme, uma gritaria, um reboliço: ...sai da frente, ...abre, abre, abre!!! Lá vinha uma maca com um homem deitado e desfalecido, pálido que nem uma vela branca, todo ensangüentado nas partes baixas, e eu, apesar do susto e de toda a confusão, ainda tive tempo para pensar: será que foi fimose?

O elevador subiu com o paciente da maca, e eu fiquei ali esperando que voltasse. Estava morrendo de medo e de vergonha! Um homem daquele tamanho, naqueles trajes minúsculos, sentado em uma cadeira de rodas, à porta de um elevador quase na entrada principal do hospital, em companhia de um enfermeiro “alegre”, quase radiante, que parecia desfilar com o seu troféu!

Chegamos ao terceiro andar. Em uma sala localizada no pré-centro cirúrgico o enfermeiro disse que eu teria que esperar ali e que alguém viria me buscar para levar à sala de cirurgia. Despediu-se todo meloso, desejando-me boa sorte e boa recuperação!

Passados alguns minutos uma enfermeira apareceu e me disse que eu teria que esperar, pois, o Dr. Sardinha estava em outro local do hospital.

Dez minutos, vinte minutos, e eu lá, naquela cadeira de rodas, duro, teso, sem me mexer para não dar quique. A bata, além de curta, tinha um rasgão de cabo a rabo nas costas. Eu estava literalmente no couro e no osso!

Foram chegando outros pacientes para cirurgias. A fila crescendo. Um engarrafamento danado na porta do Centro Cirúrgico! A essa altura ficamos sabendo que o paciente que havia entrado de urgência e que havia provocado todo aquele reboliço era um homem público, e que teria levado um tiro na virilha.

Todos os médicos que não estavam operando foram cuidar do paciente, inclusive o meu!

Durante a espera, os pacientes que estavam na fila da faca começaram a conversar. Uns reclamavam: “é um absurdo uma coisa dessas!”. Outros contavam animadamente sobre suas doenças e perguntavam sobre as dos outros, e inevitavelmente, perguntaram-me que tipo de cirurgia eu iria fazer. Prontamente respondi: Vou extirpar uma hérnia! Imaginem se eu iria dizer ali, no meio daquele povo todo, que eu operaria de fimose!

Uma hora, uma hora e meia, e nada! A vontade de desistir e correr dali havia chegado ao ápice. Só não tinha fugido ainda porque estava vestido naquela bata ridícula e não sabia onde o peste do enfermeiro havia colocado minhas roupas!

Duas horas e quinze minutos depois de chegar à porta do Centro Cirúrgico, fui levado para a mesa de operações. O Dr. Sardinha, pingando de suor, me recebeu meio desanimado, pedindo desculpas pela demora, dizendo que estava até aquele momento, tentando salvar a vida do paciente do tiro. Tinham conseguido estabilizar o seu quadro, mas não sabia se ele iria sobreviver, pois, havia perdido muito sangue e tivera várias paradas cardíacas durante o atendimento!

Eu, que só precisava de um pequeno estímulo para desistir da operação, perguntei todo esperançoso ao médico: Doutor, o senhor não está muito cansado? Não quer deixar para outro dia? E ele num passe de mágica, como se houvesse recebido uma injeção de ânimo, esbravejou: “ de jeito nenhum! Vamos fazer agora! ... Enfermeira, segure logo esse negócio, bem direitinho, que eu vou aplicar a anestesia!!!!

Pensem no constrangimento!!

Durante a cirurgia, naquele entra e sai de médicos e enfermeiras, surge um médico que jogava bola comigo e diz: “ Sinto muito em lhe dizer, mas, acho que o Sardinha cortou mais do que deveria, e não tem como emendar!”. E saiu rindo às minhas custas, e eu o mandei tomar naquele lugar!

Já em casa, saí logo após a cirurgia, soube que o homem que havia levado o tiro falecera.

Quanto ao resultado da cirurgia, posso dizer a todos aqueles que sofrem e passam pelos incômodos pelos quais eu passava, que foi a melhor coisa que eu fiz em minha vida! Se soubesse, já teria feito antes, e talvez não tivesse passado pelo sufoco que passei naquele dia, mas também, não teria esta história para contar, não é mesmo?