Tosse na sacristia

No segundo banco, o menino de três anos tosse, tosse no colo da mãe.

_Será que não é melhor a senhora levá-lo lá fora?

_Está muito frio, dona; ele piora com o frio.

O menino tosse, tosse.

_ E lá atrás, será que ele não distrai e pára de tossir?

_ Lá eu não escuto o padre.

O menino tosse, tosse. Um cachorro late. O padre interrompe o sermão e aguarda. Silêncio. Ele recomeça a pregação. O menino tosse, tosse. O cachorro late.

O padre, confuso, improvisa uma pequena procissão dentro da igreja para louvarem o Senhor. O menino tosse. O cachorro late. O padre aguarda a mãe e o menino e os conduz gentilmente à sacristia; oferece cadeira, água e tranca a porta. Segue em procissão com os fiéis e volta ao altar; os fiéis retornam aos bancos.

Então a mulher que se sentava ao lado da outra com a criança começa a tossir repetidamente. O padre pára a missa. A mulher vai sozinha à sacristia. Não demora muito retornam os três sem nenhuma tosse.

O padre, que agora poderia ser ouvido, abrevia a reza e precipita o final da missa. Chega à sacristia quase arrebentando de tanto tossir. O coroinha oferece ao sacerdote água e cadeira. O menino de três anos, agora bonzinho e no chão, vai e fecha a porta do padre.

Neusa Storti Guerra Jacintho
Enviado por Neusa Storti Guerra Jacintho em 29/06/2008
Reeditado em 29/11/2009
Código do texto: T1057314
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