A VIDA DO PESCADOR BACALHOEIRO

Era nos fins de Março ou nas primeiras semanas de Abril que a despedida dos bacalhoeiros se realizava. A dor da separação era enorme. Algumas mulheres iam assistir a Lisboa a partida dos lugres fundeados em Alcântara e Belém. Outras nem sequer podiam ir, os gastos eram muitos e as economias escassas perante as enormes despesas de um lar cheio de filhos e necessidades.

Algumas horas antes do comboio correio chegar era uma azáfama no caminho da estação, carros de mulas carregadas de gorpelhas, grupos de mulheres com malas e sacos e outros volumes onde levavam roupas e comida.

Quando a máquina do comboio apitava na maior curva férrea da Fuseta, já na estação começava um desafio de beijos, abraços e lágrimas de dor. Eram emoções até então jamais sentidas. Eram lenços brancos esvoaçando - um “adeus” a contrastar com o traje negro das mulheres, soluços que rompiam por todo o lado … em que o agitar dos lenços só paravam quando o comboio desaparecia no Martinhito. Depois no regresso a casa, os quadros eram virados na parede, eram as flores que desapareciam nas jarras, eram os colchões cuja carepa ripavam nos meses de verão, ou era a lã que desfiavam…

Assim perante a cruel ausência duma vida que enfrentava perigos, lendas superstições e tragédias, aconteciam desgraça que o povo contava.

O facto é que uma lenda se baseia numa história por vezes real.

Tanto assim é que:

O meu tio Francisco que durante anos andou na faina do bacalhau com ele aconteceu a mais trágica história de amor daquele tempo. Sua mulher Aida Baptista havia ficado grávida na partida. O tempo passou e quando o navio largou para Portuga,l nessa altura em vez da alegria que o regresso à terra sempre proporcionava havia naquele chegada um ar de tristeza em toda a terra perante o drama da situação. O Francisco quando chega à estação e não vê a sua Aida ficou com o coração a bater no peito.

- Que terá acontecido?

Começou por reparar no ar de tristeza com as demais pessoas o olhavam. Umas baixavam os olhos tristes e outras ficavam muito sérias.

Lembrou-se que seria por causa da gravidez que não teria ido esperá-lo.

Quando chegou à sua casa e vê a porta aberta perante um grupo de mulheres sentadas em cadeiras de tabúa, todas vestidas de luto, xailes pretos e lenços pretos na cabeça. As crianças com laços pretos a segurar-lhe as tranças. Houve à sua entrada um romper de gritos e soluços e as pessoas a abraçá-lo. O Francisco tremendo, olha o caixão onde jazia a sua amada Aida e a bébé que tivera. Um enorme grito de dor lhe solta do peito quando destapa o manto de tule sobre a cara e vê a sua querida esposa morta, com o vestido do casamento que ainda tinha os seus olhos azuis entreabertos onde uma lágrima parecia soltar do seu rosto amarelecido. A seu lado um lindo bebé de cor pálida jazia também.

Ninguém a pode salvar. Nesse ano a procissão de Nossa Senhora do Carmo, realizou-se no regresso.

O Francisco vai na procissão de olhos baixos e lastimando à Santa Padroeira porque duma só vez lhe levara a mãe e a sua filhinha.

É uma história vivida dum facto real que ocorreu na Branca Noiva do Mar.

zezinha
Enviado por zezinha em 03/07/2008
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