PADRASTO DO MEU PAI

No dia da festa dos meus quinze anos, num janeiro de muita chuva e calor, meu avô paterno veio passar o dia comigo.

Conversamos muito tempo sentados no terraço, ele na rede e eu no banco de madeira.

Meu avô quis saber nos mínimos detalhes como tinha sido a conclusão do ginásio e como é que iria continuar estudando naquele fim de mundo, pois segundo grau só havia na capital ou numa cidade mais adiantada que Roseirópolis.

Ficou então decidido que eu iria para o Recife, com meu avô e a nova, mulher nova, dele.

Minha avó havia falecido e meu avô, não aguentando a solidão, casou com uma mulher pelo menos trinta anos mais nova que ele.

Os filhos foram contra, mas de nada adiantaram os protestos e com toda pompa e circunstância, ano e meio depois de ficar viúvo, meu avô casou novamente.

Na semana seguinte procurei visitar todos os lugares favoritos de minha terra natal, o alto do cruzeiro com sua escadinha que diziam ter 365 degraus, mas pelo menos eu, nunca cheguei a esse numero, quando contava ou dava 364 ou 366, o fato é que se chegava lá em cima, botando o coração pela boca.

A vista de lá era deslumbrante...

A cidade lá em baixo com seu casario caiado, as praças bem cuidadas com roseiras sempre floridas, ao longe a mataria e os campos cultivados, os montes com pedras amarelas brilhando ao sol.

Fui ao bebedouro da onça, tomar o banho de despedida na piscina natural que acumulava água gelada saída de uma pedra alta.

Diziam ser mal assombrada pelas almas penadas dos cangaceiros mortos numa tocaia, quando o bando parou para beber.

Fui à casa de farinha em ruínas...

Lá sim, penavam as almas dos escravos...

Especialmente em noites escuras, projetadas pela luz das candeias, se viam nos restos de paredes, as sombras dos negros, vítimas de maus tratos, soltando lamentos e arrastando os grilhões que ainda lhes prendiam à vida infame de escravizados.

Desde muito pequeno eu morria de medo daquelas almas e das histórias que a família contava, à luz de candeeiro, sentados na varanda, sempre que faltava a luz elétrica...

Nessas noites eu dormia na rede, no quarto de Maria, a faz tudo lá de casa.

Andei na linha do trem, tão abandonada quanto os restos dos vagões que o tempo e a ferrugem estavam lentamente digerindo, reforçando ainda mais o aspecto de fim de linha.

Os rouxinóis pelas cercas me alertaram para o fato de que estava anoitecendo e que eu iria pegar o ônibus para o Recife, às oito horas da noite.

As despedidas foram em casa mesmo, só meu pai veio comigo até a rodoviária.

Quando já estava instalado, ele recomendou outra vez que eu deveria esperar o meu avô na rodoviária e que não desse atenção a nenhum estranho.

Meu avô já estava informado do horário e muitas outras coisas que eu fiz questão de não ouvir.

Estava amanhecendo quando acordei com o corpo todo doído por ter dormido na cadeira, na mesma posição.

Eu já estava começando a me desesperar quando meu avô surgiu reclamando do horário.

O ônibus chegou cedo demais, aquela não era hora de se acordar ninguém, no melhor do sono.

Fui matriculado no Colégio Salesiano, turno da manhã.

Colégio masculino..

Turma masculina...

Comportamento masculino...

Esportes masculinos...

Castigos masculinos.

Às sete horas o padre prefeito passava o cadeado no portão.

Quem estava fora não entrava, quem estava dentro não saía, no mais autêntico regime de claustro.

Hora para tudo, missa, aulas, ginástica na quadra coberta, futebol no campo, banho coletivo numa sala ampla com o piso rebaixado e chuveiros nas paredes.

No centro banco de cimento em forma de U, onde ficavam as roupas e as toalhas.

O padre prefeito tomava conta da meninada a fim de inibir qualquer brincadeira.

Certa vez, por causa da bunda branca de Barata Descascada, um colega albino, duas classes mais adiantada que a minha, ficamos três dias de castigo, rezando o Ofício de Nossa Senhora, depois do banho.

Mas valeu a pena, foi muito engraçado.

Sem que Barata Descascada pudesse evitar, devido à surpresa do gesto, enquanto o Pe. Prefeito estava falando com um novato que tinha deixado a meia no chão, Oreia ajoelhou-se e beijou a bunda de Barata Descascada.

Foi uma gargalhada geral...

Barata com o rosto ensaboado, atônito...

Oreia, o engraçado, com os braços abertos junto dele e o Pe. Prefeito aos berros.

Suspensão de três dias para Oreia e para o resto, inclusive Barata, o Ofício de Nossa Senhora, começando naquele mesmo dia.

Meu avô quis saber os detalhes da história e ainda me passou um sermão antes de assinar a caderneta de presença, confirmando que havia sido notificado do castigo coletivo.

Os primeiros dias no Salesiano me pareceram os piores de minha vida...

... Toda a liberdade havia ficado no interior...

... Roseirópolis tão distante e ao mesmo tempo tão presente.

Muitas vezes fui chamado à atenção porque apesar de estar com os olhos abertos, durante as aulas, eu estava com o pensamento em minha terra.

Aos poucos fui fazendo amizades. Éramos induzidos a formar grupos de estudo.

O Pe. Prefeito estava sempre na biblioteca, aliás, ele estava sempre em todo lugar.

Foi a única pessoa onipresente que conheci.

Em qualquer lugar, ou ele já estava ou chegava logo em seguida.

Era infalível, pai, conselheiro, duro, bem poucas vezes flexível, capaz de compreender, perdoar e castigar com serenidade os seus muitos filhos.

Quando eu chegava à casa, depois das aulas estava tão cansado que não queria mais nada, só dormir.

Se por acaso tivesse alguma tarefa, fazia antes do jantar e depois cama.

Dona Maroca, minha avó torta, não me deixava fazer nada, diferente do interior onde eu tinha que ajudar nas tarefas caseiras...

Aqui, nem a xícara eu tirava da mesa...

Se por um lado eu gostava por outro achava que aquilo era um recado de que eu seria sempre visita.

E pensava, "não queira ser tratado como de casa, porque seu lugar não é aqui".

Mas Dona Maroca sempre me tratou como rei.

Depois de seis meses de aulas, pelo volume de coisas a estudar, fiquei muito magro e dona Maroca, toda noite antes de dormir, me dava um copo de leite com Toddy, um alimento achocolatado de sabor agradável.

Meu sono que era de pedra, ficou mais pesado e eu tinha que ser acordado todos os dias, para chegar à escola dentro do horário.

No princípio dona Maroca me chamava da porta, depois nos pés da cama, depois alisando meu cabelo.

Nessa época todo pijama era longo e eu preferia dormir de cueca.

Certa vez, acordei com dona Maroca junto à cama, com a mão na boca me olhando.

O lençol havia caído e meu pênis ereto para fora da braguilha da cueca.

Nesse dia, morto de vergonha, nem olhei para dona Maroca no café da manhã...

Mais tarde quando ela foi levar meu copo de leite morno, disse que eu deixasse de besteira, que aquilo era a coisa mais natural do mundo e sinal de que eu era homem normal.

Adoeci.

Gripe das fortes.

Febre de 39°.

Tosse, muita tosse daquelas de cachorro, seca, irritante, persistente. Chás dos mais variados.

Na febre delirei, vi monstros que queriam me pegar.

Dona Maroca me segurou na cama e deu melhoral com chá de hortelã da folha graúda e me enrolou com cobertor de lã.

O suor molhou o pijama, os lençóis, o colchão e dona Maroca mandou que eu trocasse o pijama.

Para não ficar nu na frente dela, fiquei parado aos pés da cama com o pijama seco nas mãos e tiritando de frio.

Quando terminou o serviço com a cama, dona Maroca tirou o meu pijama e secou meu corpo com a toalha, demorando-se mais na genitália.

Com uma das mãos expôs a glande e com a outra passou a toalha.

A reação foi imediata.

O membro avantajou-se nas mãos de dona Maroca, que saiu do quarto sorrindo.

Sonhei tendo relação dom dona Maroca e, a partir desse dia, meu pijama esteve sempre manchado de esperma endurecido.

Meu avô foi ao Rio de Janeiro resolver uns problemas entre a loja dele e os fornecedores.

Na mesma noite da viagem, acordei com dona Maroca me beijando.

Fui levado para a cama do casal e tivemos relações até quase amanhecer...

Foi a coisa mais maravilhosa que aconteceu...

Pena que só durou as noites da semana em que meu avô esteve fora.

Mais ou menos um mês depois dessa viagem, dona Maroca danou-se a enjoar e o médico confirmou que ela estava grávida.

Foi uma festa na família.

Meu avô ia ser pai outra vez.

Nove meses depois do retorno do meu avô, nascia o irmão do meu pai.

Meu tio, que por capricho da natureza, nasceu com o mesmo sinal de família, que só os parentes de minha mãe possuíam, inclusive eu.