Ética da malandragem...

Naquele dia, o convite correu de boca em boca. À noite teria pagode e churrasco na casa do Zé Raposa.

Lá naquela casa era o Templo Sagrado da Malandragem, cachaça, cerveja, fumo e farinha, o pagodão partido alto era bem tocado e o pessoal curtia Fundo de Quintal, Bezerra da Silva, Dicró, Jovelina Pérola Negra, Zeca Pagodinho, Jamelão, Cartola e outros.

Como é de se esperar, muita gente gosta de cheirar umas carreiras, outros de fumar uns baseados, outros só gostam de comer e tocar...cada um tem um vício, uma mania, e obedecem a regras não escritas que regem a vida mundana.

No dia desse evento, um gaiato que estava por perto de uma roda de malandros, lá na Feira da Bugiganga, sentiu-se convidado sem o ser e foi para a festa sem que ninguém tivesse chamado.

Lá chegando, já foi abrindo cerveja, dançando com a mulher dos outros, tomando todas e pegando as carnes da churrasqueira, cortando, comendo e reclamando que estava dura...estava se sentindo em sua própria casa, era mais folgado do que colarinho de palhaço.

Quando entrou na copa da casa, viu que os malandros estavam cheirando pó e resolveu compartilhar, porém, ali cada um colocava um tanto e todos cheiravam, e o tal gaiato começou a usar a droga dos outros.

De repente, viu que havia chegado sua vez de oferecer a droga para todos cheirarem, e como não tinha nada para oferecer, saiu de fininho.

O gaiato foi até a cozinha, pegou o saco de sal e despejou em seu lenço, aproveitou que todos haviam saído para escutarem o samba e enquanto ficou sozinho, aproveitou e fez várias carreiras de sal em cima da mesa, chamou os "amigos" e disse:

_Taí rapaziada, vou fazer uma presença para vocês.

Quando o primeiro malandro deu uma aspirada no sal, ficou com os olhos cheios de lágrimas e o sal queimava suas vias aéreas feito brasa.

O malandro agüentou o tranco, saiu quietinho, e a primeira coisa que viu pela frente foi um espeto para churrasco que empunhou tranqüilamente, voltou, e num golpe certeiro, atravessou o gaiato com o espeto, perfurando seu intestino numa só estocada.

Todos olharam assustados, porém o autor do golpe, virou-se para os outros malandros e disse:

_Isso é para ele aprender que a ética cabe em qualquer lugar.

Pegou o sal da mesa e jogou tudo na ferida do infeliz.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 15/08/2008
Código do texto: T1129172
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.