SEU ELIETE

SEU ELIETE

Vocês já viram, por aí, algum marmanjo chamar-se por nome de mulher? Eu já. Antes vi um gajo assim: um talzinho cuja graça era Eliete. Vi-o e o conheci de perto. Mas não me duvidem, não botem cafanga para este acontecido, que sou tranchã nos meus dizeres e fazeres.

Totalmente verdadeiro, eu vi o fato... E com o nome botado no batismo. Sim, digo totalmente porque existem pessoas masculinas que carregam graças apenas meio de mulher. Conserto: nomes comuns de dois gêneros. Juraci, por exemplo.

Antes, não, garanto e dou fé de verdade, e suponho que acontecido inédito. Nunca vira, mesmo, em lugar nenhum: seu Eliete. Juro que foi verídico o caso.

Tomem tento, prestem toda a atenção: seu Eliete não tinha quaisquer traços feminis. Nada, nada.

Alto, espadaúdo, busto forte, sujeitão de barba no queixo. Até bem-apessoado, o desinfeliz. Mas com um nome desses, assim, no mínimo, no minimórum, ele estaria pelo avesso do avesso.

Ia dizendo... O homem tinha até traços varonis, massudo, o coisa-ruim. Traços de macho, só ares aparentes, obviamente, já que seu nome de papel passado era uma tragédia hilária.

Seu Eliete – eu atesto para vocês – não tinha salamaleques de mulher, não. Não tinha. De jeito nenhum. Até barba no queixo tinha o desafortunado... Ora, essa!

Contudo, má-sorte lá dele, coitado do híbrido de nome, esse um, com jeito de homem, no mínimo, levava nome de mulher.

Dito isso, di-aaa-cho!... Aí é que está o nó da questão, aí é que a porca torceu o rabo.

Nada, nada tinha o cara de trejeitos de maricas. Alto e atlético, sarado e malhado, o pobre do seu Eliete. Parecia machão mesmo, pelo menos de traços, o coitado do infeliz.

Nome de subversão, dessas que fazem virar mesa, desde a pia batismal. É!... Nome de subversão, data venia de vosmecês. Ele era macho mesmo, a grosso modo, macho. Isto era o que parecia aos olhos de todos. Com estado civil e tudo, conforme o exarado no seu papel de cartório.

Um dia, sem que a mulher de seu Eliete parisse, o médico deles quis saber por que o seu cliente não reproduzia. Pois é, ele, seu Eliete, casadinho da silva.

Seu Eliete, constrangido, pé adiante e pé atrás, certa vez, a mando do esculápio, foi bater num laboratório de fama e escama: exame do sêmen de seu Eliete.

Exame de espermograma? Ai, ai, ai... Viche, santo Deus, ai meu Jesus Cristinho, que coisa mais pau e marruá.

Resultado final do espermograma de seu Eliete: o paciente era e/ou estaria azoospérmico, ou seja, era e/ou estava portador de azoospermia.

Querem saber o que isto significa? O homem era e/ou estava zerado em espermatozóides. Zerado, de pleno e absoluto, não tinha aqueles mexilhões no sêmen. Sexualmente borocoxô.

Foi daí que o epíteto do aparente machão ficou, clinicamente, comprovado.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 05/10/2008
Código do texto: T1213339
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