Causos de Maricá (2)

A CAÇADA

Durante as férias escolares que passavam na paradisíaca região litorânea de Maricá, diàriamente, após a “ caldeirada “ de bagre no almoço, sem perder nem mesmo um minuto, o jovem Lagarto e os colegas pegavam suas atiradeiras e iam à caça.

Em grupo, vasculhava toda a restinga, alcançando todos os recônditos lugares, como caçadores impiedosos ou exterminadores sanguinários, a procura de qualquer forma de vida animal.

OS CARANGOS

Carangos, espécies de lagarto, abundantes e ariscos, que fugiam, em rapidez, para os gravatás espinhosos ao menor ruído, mesmo que fosse a quebra de um simples graveto, eram alvejados de longe com as atiradeiras, sendo preferidos aqueles que tinham o dorso esverdeado. Existiam, ainda, outros tipos de carangos, esses muito raros, apreciados como alimento pelos nativos, mas de caça trabalhosa, pois ficavam entocados durante todo o dia.

OS CARAMUJOS

Mais difíceis de serem encontrados, os caramujos tinham mais de um palmo de tamanho e cor rosa em tons variados. Verdadeiras relíquias levadas como troféus pelos caçadores. Tais espécies estão extintas e, hoje, tardiamente, lamento, como pai, a ignorância, naquela época, ao contribuir, indiretamente, com a destruição da natureza.

OS BACURAIS

Vez em quando, descobria-se um ou outro bacurau pousado nos galhos das árvores. Pássaro grande de vôo lento que mais parecia uma pequena galinha. Seu piado era característico : “amanhã vou...amanhã vou...”

Lembro-me, ainda, quando a avó do Lagarto fazia algum pedido e, em seguida, o chamava de bacurau, quando ele dizia: “amanhã vou...” Agora entendo e assumo também a culpa pela partida do bacurau, reconhecendo que ele se foi... e nunca mais voltou. Talvez extinto.

OS MARIBONDOS

A ansiedade tomava a todos os caçadores, ao encontrarem qualquer ninho de maribondo, e eram muitos. Grandes e pendurados nos galhos das pequenas árvores cinzentas., tão comuns na restinga.

Analisavam a situação, escolhiam a distância segura de tiro para evitar retaliações dos maribondos, e traçavam, estrategicamente, a rota de fuga para qualquer eventualidade. Parecia uma emboscada dos índios apaches contra os soldados americanos, como visto nos filmes antigos. Todos perfilados com as atiradeiras preparadas, prontos para, em único momento, despejar uma saraivada de tiros, destruindo o alvo. Sempre venciam, e, por sorte, sem uma única perda.

AS CARANGUEJEIRAS

Já as aranhas caranguejeiras eram o terror dos jovens caçadores, pois eram consideradas terrivelmente venenosas e abundantes na região, inclusive dentro das casas que eram vistoriadas, diàriamente, sobretudo à noite, quando até as camas eram reviradas por todos.

As “tarântulas”, do tamanho de uma mão fechada, impressionavam por ser toda peluda, na cor marrom, com duas grandes presas pretas e pontiagudas. Essas eram mortas, sem dó nem piedade, com pedradas... esmigalhadas.

AS COBRAS

As cobras, terríveis, nos metiam mais medo, pois a sua abundância e mobilidade, nos levava a encontrá-las em qualquer local, até mesmo nos galhos das árvores.

Dentre elas, destacava-se a chamada cobra cipó, pequena, cerca de um metro, de cor verde, quase sempre enroscada nos galhos. Os nativos diziam que nem todas eram venenosas, pois também era comum a falsa cobra cipó. Para as crianças, contudo, todas tinham veneno e evitavam confrontá-las com medo dos botes e por acharem que andavam em bando.

A LAGOA

Já que eram proibidos de ir desacompanhados a praia, partiam, naturalmente e sem culpa, para a lagoa, caminhando nas suas margens por alguns quilômetros, sempre com as atiradeiras, procurando acertar os carangueijos que infestavam a areia e, principalmente, seus manguezais. Lamentável erro, reconhecido hoje.

O perigo, e sempre se ferravam, eram as espinhas de restos de peixes mortos, como tainhas e bagres, no meio daquelas algas verdes ou amareladas que infestavam as margens.

Vez por outra, entravam naquela água quente, com fundo lodoso, para dar alguns mergulhos, por sinal, nada agradável. Valia apenas pela alegria da farra.

A ILHA DO TESOURO

O ponto alto, contudo, era quando encontravam uma canoa abandonada, daquelas do tipo moicano, que os permitia, com muito esforço , por não saberem remar, chegar até uma ilha que chamavam de “A ILHA DO TESOURO’, desbravando-a como piratas conquistadores.

Após alcançarem as chamadas Barreiras do Inferno , elevações do lado oriental da ilha e limites das terras proibidas aos jovens caçadores, retornavam ao ponto de partida, abandonando a canoa no mesmo lugar que a encontraram e corriam e corriam para casa, pois a tarde já ia longe, com o céu escurecendo..

O DIA SEGUINTE

No dia seguinte... Já seria uma nova aventura, talvez até, mais empolgante para O LAGARTO E OS JOVENS CAÇADORES!

ViniciusSanches
Enviado por ViniciusSanches em 10/11/2008
Reeditado em 24/02/2023
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