Maria-mal-matada

Seu nome, Maria Clotides de Freitas. Mas, por causa das cicatrizes que trazia no corpo devido a catorze facadas que recebera do marido, ficou conhecida pelo horroroso apelido de Maria-Mal-Matada. A maior parte do seu tempo vivia agradecendo a Deus por não ter morrido naquele dia. Tornou-se uma mulher religiosa e muito generosa, provavelmente, pelo fato de ter escapado da morte. Optou pela solidão, por isso, nunca mais quis saber de casamentos.

Tinha dezessete anos quando se casou. Escolheu seu marido entre três pretendentes por ser o mais bonito e trabalhador. O namoro durou um ano e seis meses; o noivado foi mais curto. Não precisava de mais tempo, dizia ao contradizer o pai e a mãe que, inicialmente, eram contra o casamento por ela ser muito nova. Insistiu tanto que eles acabaram consentindo. No dia do enlace teve festa com muita bebida e dança. O pai, embora não fosse rico, tinha algumas economias e encheu o casório da filha com os amigos.

Doze anos depois de casada, em que teve muitas alegrias e nenhum filho, sua vida tomou rumo trágico. O marido passou a beber e tornou-se muito ciumento. Não era um ciúme normal. Era doentio. Chegava em casa de surpresa, procurando sinais da traição dela. Nada encontrando passava a agredi-la com palavras e até fisicamente. Ela era uma mulher direita. Tentava mostrar-lhe que não fazia nada demais, porém, agüentar seus ciúmes não estava se sentindo mais capaz.

Sem querer sua vida foi se transformando num inferno: não tinha mais o direito de ir e vir. Por qualquer motivo, o marido iniciava uma discussão que se prolongava pelo resto do dia, terminando sempre em agressões mútuas. Ela sempre respondia a altura, enfrentando-o com coragem.

Aos poucos, o relacionamento deles chegou um ponto insustentável. Numa tarde, como sempre, chegou em casa bêbado. Ela disse Basta! Estava cansada daquela vida. Decidida resolveu abandona-lo. E ele, desorientado, xingou-a e chegou até ameaçá-la:se não ficasse com ele, com outro também não ficaria. Ela não deu atenção as suas insinuações e xingamentos, começou a arrumar as malas: ia embora.

Irritado com a decisão dela, a chamou de adúltera. Ela não se conteve e o chamou de bêbedo e broxa. Ele não gostou do que ouviu e partiu para cima dela. Ela o enfrentou. Ele então, pegou uma faca e cravou várias vezes no seu corpo.

De repente tudo ficou escuro. Ela tombou a seus pés se esvaindo em sangue. Pensando que a tivesse matado, ele fugiu. Nunca mais se soube dele.

Maria foi levada ao hospital, pelos vizinhos que ouviram seus gritos, e durante longos dez dias, esteve entre a vida e a morte.

Escapou. Quando abriu os olhos, viu que estava num lugar estranho. Estremeceu, quando viu as enfermeiras, todas de branco, de pé, a frente de sua cama, olhando-a como a hipnotizá-la. Pensou que tivesse morrido.

Sentiu-se aliviada quando uma das enfermeiras lhe disse que estava num hospital. Sorriu, embora ainda sentisse dores em várias partes do corpo. Quis saber por que estava lá. Disseram-lhe que recebera catorze facadas do marido.