Natalina era uma mocinha sem graça, que ia vendo o tempo passar sem que o homem dos seus sonhos surgisse para pedir a sua mão. Também... Naquele fim de mundo não tinha nenhum rapaz que se encantasse por ela e esperar que um viesse de fora... Bem, era uma esperança. Dentro do guarda-roupas de Natalina, já com 35 anos, uma imagem de Santo Antônio, de cabeça prá baixo, prometida ficar ali até que ela se casasse. Chegou a ocasião. Natalina iria casar-se com um caixeiro viajante que se encantou por ela. Dia de Sábado. Igreja pronta, cheia de flores. Casa cheia de amigas solteiras e já casadas, bolo enorme na mesa, roupa de cama limpa e engomada, talheres tirados de dentro da caixa guardada no armário há muitos anos, aparelho de jantar de louça fina também tirado do esconderijo. Rabos de tatu, pastéis, olhos de sogra, empadinhas, ponche, bem casados, etc., etc. Enfim, a casa cheirava a flor e Natalina cheirava a ninfa prestes a perder o que tinha de mais precioso e ganhar um marido.
De casa, ela e amigas viam tudo que acontecia na igreja. Apenas a rua e a calçada do jardim entre Natalina e a chegada de Jânio no altar. Somente depois disso ela iria. É claro. Casamento marcado para 5 horas da tarde e já se passaram 5 horas. Convidados desistem de esperar na igreja e lotam a casa de Natalina (pelo menos para comer os doces) Dez horas da noite. Natalina começa a jogar pela janela pastéis, empadas, pedaços de bolo, bandejas de papel, lembranças de flor de fécula de batata com lacinhos cor de rosa, enfim, o que lhe vinha à mão e junto, soltava adjetivos dirigidos a Jânio: cafajeste, canalha, avarento, cínico, feioso do cão, e haja nomes. Aí ela lembrou: tinha o Santo Antônio que só seria posto na posição vertical, dentro do nincho (pois estava dentro do guarda-roupa de cabeça para baixo), depois do casamento. Pegou a imagem, deu-lhe uns tapas, não sem antes reclamar e adjetivar o santo de enganador, mal-agradecido, insensível, esse desabafo leve, porque era para o santo... E jogou-a pela janela. E daí... Outro noivo surgiu. Um desprevenido passava pela rua, vinha do Beco das desfrutáveis e recebeu na cabeça a imagem do santo. Caiu ao chão, duro, sangrando e desmaiado. Natalina corre para ajudar e cai de amores. Ele também, quando acorda. Entram em casa para um curativo, olham-se, prometem encontro para amanha, e... Casam-se! Sim, um mês depois, Natalina compra outra imagem do mesmo santo e a coloca no quarto do casal, desta vez casada mesmo!