Palavreado de roça: num farta na feira



Tem um lugar nas cidades que todos chamam de Mercado, Central de Abastecimento, Mercado Público, Mercado Popular, ou outro nome. O lugar deste “causo” chama-se Centro de Abastecimento, ou Centro de Aborrecimento, como eu o chamava, antes das mudanças que a Prefeitura Municipal fez por lá. Antes era só desordem, frutas junto com carne seca, cascas de frutas e legumes estragados pelo chão, barracas sem teto, piso com crateras, lixo acumulado, feijão e farinha juntinho da barraquinha de roupas de chita, chapéu de palha como medida de camarão seco... de tudo se encontra em um lugar assim. Um cheiro enjoativo une-se ao ar em ondas que despertam fome ou ânsia de sair dali. É um cheiro de ensopado que não tem hora para ser servido: vai das 04:00 até as 04:00, ou seja, está sempre lá. Tem de carneiro, de bofe, de mininico, de galinha, de carne de porco ou de boi, rabada, e por aí vai.
São 07 da manhã e lá vamos nós, eu e meu tio David comprar “umas coisinhas”: tapioca, castanhas assadas, camarão seco, carne do sol, jerimum. De repente passa um vendedor com um balaio na cabeça: moz boscada! Quem quer moz boscaaada? E meu tio, um pouco atrás de mim, grita e gargalha ao mesmo tempo: - Yara, vai querer moz boscada? E lá vamos nós... paramos no meio de um corredor onde vimos uma montanha de milho quase no ponto para ser debulhado e dar para a galinhas. Pergunto:
- Não tem verdinho, para cozinhar? E o "vendeiro":
- Ô xente dona, intão o mio nun tá verdinho? Oia só as páia, é só butar na panela, a sinhora tem panela de barro? Intão bota nela qui mulece tudo.
Continuamos... Uma mulher grita, mostrando umas folhas:
- Olha o chá pra drumi, compra cumade, o chá das sete eva: cidrêra, capim do santo, camumia, fôia de lima, fror de laranjêra, colonha e drumidêra, mai essa, hôme num pode botá no chá, cuidhado!
- Por quê?
- Pru que... cê sabe, num fica no ponto, mulece, sacumé?
- Sei sim, quero não, obrigada.
Compramos nossas coisas e saímos, mas a vontade do tio era ficar mais ali, só apreciando a nossa língua diversificada...


Yara Lima Oliveira
(Yara Cilyn)
Feira de Santana- Ba- Brasil