O presente de Natal...

Poet ha, Abilio Machado.

Nada mais faltava? Estaria assim tudo perfeito?

Estava tudo pronto: no jardim iluminado com lâmpadas alternadas em varais que dispostas abriam verdadeiros caminhos entre os arbustos e árvores frutíferas da minha infância. Lanternas de garrafas recicladas enfeitavam ora aqui ou ali com motivos natalinos, eram guirlandas, globos, estrelas, de cores variadas, presas nos ramos e arbustos; as crianças da vizinhança reunidas a brincar, alegres em suas brincadeiras, mãe pega, esconde-esconde, outras mais levadas iniciavam seus primeiros braços e beijos perto do maço de grinaldas floridas, brancas como as estrelas que cobriam a noite.

Na grande sala de visitas, moças e rapazes dançavam ao som de um aparelho já antigo, alguns bolachões eram sacados de suas capas, ostentavam classe e memória. Na sala de jantar conjugada à cozinha com o velho fogão à lenha, uma mesa comprida de madeira única retirada da chácara, a base pintada em verde, mania do senhor da casa torcedor do Coritiba Futebol Clube, sobre ela uma porção de comidas, frutas e cerveja caseira. Uma jarra com flores podia ser notada, mas era artesanato feito por uma das filhas que além de trabalhar na correia de produção da fábrica de cerâmicas ainda fazia cursos de artesanatos na fundação da empresa.

Os pequenos de vez em quando deixavam suas brincadeiras para atacarem as guloseimas e também expiarem os mais velhos em suas novas experiências de adolescentes, fazendo assim caretas com os beijos de lábios encostados.

Na sala um pano azul turquesa cobria uma forma quadrada sob os pés da árvore de natal, como estava linda. A rama erguia-se soberba a quase chegar ao teto, bolas de vidro colorido pendiam-se nos galhos, alguns objetos feitos na escolinha também foram pendurados, e no topo ainda vazio, sabia que ali como todo ano seria colocado uma estrela, mas o que teria naquela forma quadrada, a vontade de sondar era tamanha que muitas vezes uma das irmãs ou os pais deram alguns gritos e ameaças para que os danadinhos se afastassem...

Mas de repente, assim aos poucos os convidados foram-se despedindo, indo embora, levando os rebentos pelas mãos ou adormecidos no colo, A senhora da casa não estava bem, assim o casal mais novo da casa teve que ir para cama mais cedo que o costume ao dia festivo. João Pedro e Christian, primos deitaram-se no quarto de João, enquanto Renia foi para o quarto das irmãs mais velhas, não poderia ficar no quarto de sempre pois a velha parteira ia passar a noite com todos...

Deitados Christian comentava contrariado a João:

__Sua mãe tinha de adoecer justo hoje? Não podemos brincar, nos escondermos para esperar o papai Noel...

__Tínhamos combinado tudinho... Véspera de Natal, a brincadeira estava tão boa...

__ Se estava, acredita que dei um beijo na filha do seu Joaquim?

__ Credo que nojo... Mas estranhei sua mamãe... Ela não parecia doente, apesar daquele barrigão que ela ta... Muito gorda...

__Não fale assim da minha mãe senão eu vou aí e te dou umas bifas, ah se dou.

Ficaram contando um a outro o que tinham pedido de presentes na lista dos tios e irmãos caindo no sono logo depois cansados da baderna do dia.

Pela manhã, a casa acordada, sentia-se o cheiro do pão fresco, dos ovos fritos, do café coado. João abriu os olhos aos poucos, tinha sonhado um sonho tão bom... Era noite e muito luar e um anjo desceu do céu trazia nos braços um presente, era uma criança, um pouco maior que a boneca Sophie que a imã possuía, este anjo pousara e colocara aquele bebe num berço de vime, e logo depois de sorrir e dizer algumas palavras a ele levantara vôo com as asas de imensa luz.

Despertou mesmo ao ver aos pés da cama a irmã Renia estava boquiaberta, dizendo para que corressem e eles vestidos ainda apenas de cuecas e meias saltaram, pensaram que eram os brinquedos por isso correram para baixo da árvore de Natal, mas ela os deu empurrões para o quarto da mãe, onde ela estava deitada, a face abatida, parecia cansada...

__ Ah meus queridos, mamãe teve um presente, que um anjo deixou de madrugada, enquanto dormiam. Vocês não disseram que queriam mais um irmãozinho? Pois aí está este é o mais novo membro da nossa família...

Meio trêmulo como a irmã tinha ficado, João deu a volta na cama, viu aquele recém nascido dormindo a sono longo, começou a olhar cada detalhezinho...

__ Que foi filho?

__ Quero ver se igual...

__ Igual a quê?

__ Igual ao que o anjo mostrou para mim e disse que ia ter nome de arcanjo, ia se chamar Gabriel.

A mãe perguntou a todos da casa se em algum momento João havia estado perto do quarto e todos disseram que não, ela então acreditou que seu filho tivera uma visita divina, pois era segredo dela e do marido o nome do filho pretendido.

Quando o pai emocionou-se quando viu João escrevendo com a caneta o nome do irmão na estrela e pedindo para que fosse colocado no topo da árvore, tendo a aprovação e palmas de todos que se reuniram para o momento, pois logo então foi descoberto o grande segredo que estava sob a árvore de Natal: um presépio, todo montado com figuras executadas em palha de milho, um trabalho maravilhoso feito pelas mãos habilidosas da Mestra da Palha Luzia de Balsa Nova, aqui no Paraná.