"João e a pedra preta"

Certa vez, João, um homem que trabalhava em uma pedreira, perguntou ao patrão se ele poderia lhe ceder um pouco de suas pedras; pois ele iria começar a fazer o alicerce de sua tão sonhada casinha .

O patrão, que tinha esperança de encontrar um filão de ouro em sua pedreira, disse a ele que sim, que ele poderia pegar qualquer pedra, menos as pedras da jazida principal e que de graça, não daria, poderia sim, fazer para ele um abatimento, João disse a ele que tudo bem, pagaria por elas, pois pedra é pedra em qualquer lugar e para ele não iria fazer diferença alguma.

E lá se foi João com seu caminhão cheio de pedras estrada afora.

Chegando lá, o motorista basculou as pedras bem perto das valas já feitas para se fazer o alicerce.

Passaram-se vários dias, até que João então resolvera quebrar as pedras com uma marreta para que elas coubessem dentro das valas. Bate nas pedras, uma, duas, três, quatro vezes, e uma se lasca toda num estalo só.Na pedra entreaberta, um brilho amarelado se sobressai para espanto de João.

_Será que isto é ouro meu Deus? Pensou ele...

João, não sabendo do que se tratava, pegou a pedra e foi até a casa do patrão ver se ele já tinha visto daquela pedra amarelada. O patrão, matuto que era, ao ver a pepita não se conteve em espanto, era o brilho do ouro nas mãos de João. Maquiavelicamente ele pensou logo em um plano para tirar o ouro das mãos dele.

_Olha! Isto é argila amarela, não vale nada, é que ela, quando se funde com a pedra, fica assim toda brilhante. Olha, deixa essa pedra aí e fala lá prós meus marreteiros para te darem uma das pedras de minha maior estima, esta pedra fica lá perto da roda d'água, é uma pedra duns cem quilos e vai te ajudar muito no seu alicercezinho.

E João, simples que era, entregou a pedra ao patrão.

_Presta atenção! Disse o patrão. Eu vou trocar as pedras, mas tem um porém, o negócio não pode ser desfeito, pois eu não sou homem de duas conversas e como eu sei que você está precisando fazer seu alicercezinho então eu vou lhe ajudar trocando esta pedrinha de nada por aquela pedrona de todo tamanho, hein!!!

João ficou agradecido e ainda quis lhe pagar algum dinheiro.

O patrão não quis nem lhe ceder mais o caminhão, disse que estava estragado e seria melhor se ele puxasse a pedra com uma junta de bois.

João coitado arranjou emprestado os danados dos bois, amarrou a pedra bem amarrada com uma corrente e puxou-a estrada afora.

João seguia adiante com sua pedra preta e ao passar em frente ao casarão do patrão ele ficou assustado com toda alegria do povo e do patrão. Ele então parou os bois, chegou perto do patrão e perguntou:

_Patrão, mas porque tanta festa?

E o patrão não parava de rir, e mesmo rindo disse a João:

_Você é um homem muito burro, João! Trocaste comigo meio quilo de ouro por uma pedra antiga, sem valor algum.

_Quer dizer patrão, que aquela pedra era ouro e o senhor já tão rico, ainda me passou pra trás?

_É homem! Neste mundo, não tem lugar para os burros, e agora, se atire fora das minhas terras e vá se embora com essa pedra que não presta pra nada.

João, muito triste seguiu seu caminho. A pedra ia rolando pelo chão, João cabisbaixo nem olhava para trás, pensando na burrice tão grande que acabara de fazer.

Chegando em frente a sua casinha de pau-a-pique, ele começou a chorar ao avistar sua mulher.

_Mulher, mulher que burrice minha, aquela pedra que achei era ouro puro e eu acabei trocando ela por esta pedra preta sem valor algum, e que ainda me dera tanto trabalho para trazê-la até aqui.

_Mas onde está a bendita pedra preta, João? Perguntou a mulher._Se o que vejo ali, nada mais é do que um monte de barro e terra misturada com capim?

A mulher decepcionada com João pediu a ele que não fizesse o alicerce com a pedra e que a colocasse debaixo da bica, pois pelo menos teria para ela uma grande serventia na hora de bater a roupa.

Ele então arrastou a pedra com todo o jeito pra debaixo da bica.

A mulher não parava um segundo sequer de xingá-lo:

Burro, burro, só um burro troca ouro por pedra!

A mulher começou a lavar a pedra, João chorava triste, com as duas mãos sob a testa, arrependido, quando de repente, ele ouve um grito estridente de sua mulher:

_ João! João, de que cor mesmo você disse que era a tal pedra?

_Preta! Disse João.

_Então corra aqui e veja você mesmo!

Ele levantou assustado e correu de encontro à mulher. Homem nós estamos ricos, veja só do que é feita a pedra preta que você trouxe arrastando até aqui.

Ele não se conteve de tanta alegria, pegou a mulher pelas mãos e começaram a pular, gritar, chorar, eles não estavam acreditando no que estavam vendo.

Era ouro, uma enorme pedra de ouro. Ficaram eufóricos e felizes.

Aquela pedra preta ficara lá tantos anos perto da roda d'água e ninguém sabia que tinha tanto valor.

O ex-patrão de João ao saber da novidade teve um infarto e quase morreu do coração. João vendeu o ouro e hoje é dono de quase tudo por lá.

Belchior Contins
Enviado por Belchior Contins em 09/04/2006
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