Em uma pequena cidade do interior nordestino morava Seu Anastácio. Pirracento, teimoso, mau humorado e ranheta como ele só.

Um certo dia Seu Anastácio comprou uma sandália "vaiana" dois números a menos do que o seu, porque na loja não tinha o seu número certo e ele, para não perder a viagem, levou o número menor assim mesmo.
A moça da loja, Dona Filó até que tentou lhe chamar atenção, dizendo: - Seu "Nastácio" , tá pequena. Volte aqui na semana que vem e já vamos ter o seu número. Seu Anastácio, mau humorado, como sempre, respondeu: - O dinheiro é seu, Dona? As pernas que andou até aqui foi da senhora? Então, não se meta, vou levar essa mesma. Não dei minha viagem à toa. E levou a sandália.

No dia seguinte, calçou a sandália e saiu para ir comprar charutos na venda do Seu Onório. Ia tão ligeiro e resmungando, como era de seu costume, que, de repente uma sandália lhe saiu do pé. Imediatamente, diante dos risos de crianças que estavam por perto, ele sacudiu o outro pé que estava calçado, jogou a sandália fora e disse: - uma quer ficar na rua ? então fique as duas!
E foi embora , resmungando como de costume, ainda mais. Antes de chegar à "venda" do seu Onório, deu uma grande topada em uma pedra, que quase lhe arranca a unha. No auge do aborrecimento olhou para o dedo ferido e empurrou a pedra com o pé ferido, dizendo: - tome mais uma, mais outra e mais outra!

Enfim, foi para casa sem os charutos, sem a sandália e com o dedo sangrando.
Conta-se também que um dia ele saiu montado em seu jegue para buscar leite na fazenda para vender na cidade. Na volta, com os dois barris cheios de leite , um de cada lado, encontra-se com vários meninos que jogavam gude no meio da rua. As crianças, sabendo da fama do Seu Anastácio e para provocá-lo, gritaram : - É leite para vender, Seu Nastácio? E ele, cheio de raiva, responde: Não, seus moleques, é prá jogar fora, espia aqui, ó... e vapt vupt, vira os dois barris e derrama todo o leite no meio da rua.
Os garotos lá, sorrindo e ele em cima do jegue, volta com os barris vazios.


IMAGEM: Seu Louro e a jeguinha Chiquinha, por Yara Cilyn