Um tal de Besouro Mangangá

Diz a lenda que em Santo Amaro, na Bahia, viveu um homem chamado Manoel Henrique Pereira, que era negro, bom de capoeira e tinha o corpo fechado no candomblé contra qualquer tipo de "ferro de matar", ou seja, faca, navalha, lança, espada, chumbo ou qualquer outro metal furavam-lhe a carne, mas nunca com gravidade mortal.

Na região onde ele vivia, era conhecido por Besouro Mangangá, já que todos acreditavam quando ele ficava em sérios apuros, conseguia se transformar em um besouro e sair voando.

O tal Besouro Magangá não gostava de polícia e frequentemente estava envolvido em confusão com as patrulhas daquele lugar, e quase sempre, quebrava alguns ossos dos praças.

Apesar de ser analfabeto, Besouro não era burro, pois quando trabalhava, exigia receber o pagamento avençado, sob pena de sentirem suas pancadas fortes e com direção exata.

Certo dia, Besouro bateu no filho folgado de um fazendeiro, que quisera humilhá-lo. O patrão então, fingindo não ter ligado para surra tomada pelo filho, pediu a Besouro um favor: levar um bilhete para um fazendeiro vizinho. Como Besouro era analfabeto, levou o bilhete e entregou ao fazendeiro, que leu o que estava escrito: "esse nego safado está batendo em todo mundo, pode acabar com a raça dele e enterrar, que pagarei muito bem pelo favor".

O fazendeiro chamou seis capangas, armados, que já chegaram atirando em Besouro, e este, apesar de atingido por vários tiros, entrou num capão de mato e desapareceu.

A partir daí, a morte de Besouro virou questão de honra para os fazendeiros da região, que juntaram a capangada, e ainda chamaram um tal de Eusébio da Quibaca, um outro negro valente que já conhecia o Besouro e sabia que ele tinha o corpo fechado. Mas o negro contratado era esperto que só ele, e garantiu o serviço.

Eusébio de Quibaca disse que matava o Besouro e foi até o mato e escolheu um pau de tucum, e nele esculpiu uma faca pontuda que foi levada até uma preta velha feiticeira, que benzeu a tal faca de madeira.

Eusébio, usando de um ardiloso plano, atraiu o Besouro para uma emboscada, dizendo que precisava conversar com ele em um lugar onde os capangas estavam entocaiados esperando para atacá-lo. Quando Besouro chegou, foi surpreendido pelos capangas, todos armados. Em meio à confusão, aproveitando que Besouro estava dando sapatada em todo mundo, Eusébio da Quibaca cravou a faca de tucum nas costas de Besouro, que morreu lutando, e posteiormente teve o corpo esquartejado e exibido nos quatro cantos daquelas entrâncias. Foi o último vôo do tal Besouro Mangangá.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 24/03/2009
Reeditado em 24/03/2009
Código do texto: T1503237
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