EITA MENINO DANADO!

No final do ano de 1982 prestei concurso para o Pronto Socorro de Maceió, e me habilitei para uma vaga de Acadêmico Plantonista da Unidade de Emergência durante o ano de 1983, que era o meu último ano na Faculdade de Odontologia.

Durante o período desse estágio muitas coisas aconteceram nos meus plantões: acidente com um gaiolão ( mais de sessenta vítimas) no primeiro plantão; o suicídio, com um tiro no peito, de um amigo que morava na mesma rua que eu; um assaltante deu um tiro em minha tia Naná. Quando ela chegou ao Pronto Socorro eu já havia revolucionado todo o corpo médico, que ficou na espera para o atendimento imediato. Uma vizinha me telefonou e avisou o que ocorrera, dando oportunidade para que eu preparasse o atendimento. A sorte dela foi que a bala transfixou o abdômen sem atingir órgãos importantes! No dia seguinte saiu no jornal, “Milionária é assaltada na Ponta Verde, leva um tiro mas sobrevive!”. Coitada da Naná, nunca foi milionária, e além do susto, ainda teve que aguentar os gracejos de todos pedindo dinheiro emprestado!

Nesses plantões aprendi a suturar desde o dedo mindinho do pé, até dilacerações de palato e língua. A Unidade de Emergência é de fato uma grande escola!

Foram muitos fatos tristes, outros, corriqueiros, e alguns engraçados, como o de um garoto de uns dez ou onze anos, que chorava, gritava, esperneava sentindo a dor de uma fratura em seu braço.

Depois de examinar a radiografia, o doutor chegou à conclusão de que apesar da fratura, a conduta seria apenas imobilizar o braço com uma tala gessada, pois, o osso quebrado estava na posição correta, não sendo necessário fazer-se a redução cirúrgica.

O ortopedista chamou o enfermeiro e determinou que o mesmo engessasse o braço do garoto.

Vendo que ao lado de sua mãe o menino ficava mais manhoso, pediu para que a senhora aguardasse do lado de fora da sala enquanto o enfermeiro providenciava o feitio da tala gessada.

O garoto, mais uma vez, chorou, reclamou, mas, terminou por aceitar a determinação do médico.

Passada uma boa meia hora, lá sai do recinto o menino, com o braço engessado até o sovaco, e com uma cara toda desconfiada para o lado da mãe!

Quando a mulher bateu os olhos no braço engessado do menino, gritou para todo mundo ouvir: “Mais dotô, era o dereitcho! O braço quebrado é o dereitcho!”

Não é que o menino tinha dado o outro braço para engessar, e o enfermeiro, com todo aquele cuidado que é peculiar às emergências, caiu na traquinagem do espertinho e imobilizou o braço bom!

Eita menino danado!

Imaginem a confusão, o reboliço que foi para engessar o braço “dereitcho” do moleque!