Virgem e pura, ‘pero no mucho’!!!

Ser imigrante nos Estados Unidos é um aprendizado constante, sem dúvida. Primeiro se aprende que batata frita em inglês é fries, milk-shake é milk-shake mesmo e hambúrguer; bem, esse nem é preciso comentar. Mas o mais engraçado quando a gente chega na América não é descobrir que já sabia falar inglês e não sabia; mas sim, descobrir que o espanhol, que você tinha certeza que entendia muito bem, não sabia m.... nenhuma.

De repente, o enrolês, embromation ou portunhol – línguas oficiais, inventadas no Brasil, usadas por brasileiros espertalhões que fingem falar outro idioma; a língua determina a distorção de pronúncia de algumas palavras portuguesas, de forma a ficarem parecidas com espanhol, inglês, italiano etc. – tornam a pessoa patética, sujeita a um mico atrás do outro; e assim acontece corriqueiramente.

Foi assim que aconteceu comigo também. Dois dias após aterrisar nos Estados Unidos - melhor dizendo: na Flórida -, eu já arriscava:

– Da-me una colada!

- Me gusta los Estados Unidos!

- Mi nombre es Vanuza!

Nem entendia porque chamavam essa terra de Estados Unidos. Eu não conseguira ouvir nem falar uma palavra de inglês. Na verdade, quatro dias depois de chegar aqui eu não tinha conhecido ainda sequer um americano. Mas seguia persistindo.

Achava bonitinho quando alguém perguntava: - Donde eres tu? Ou, - Where are you from?

Era a forma de deixarem claro que já haviam percebido que eu não falava nem inglês, nem espanhol. Mas pelo menos eu me virava bem. Ou nem sempre! Duas semanas depois de estar na terra do Tio Sam eu conheci um boríqua (portorriquenho). Logo me encantou seus gestos galanteadores – que mais tarde, fui descobrir, eram gestos de cafajestice, já que os portorriquenhos que vivem aqui, em sua maioria, são cafajestes. Mas ao primeiro convite de sair para dançar, disse sim.

A noite foi gostosa. Saímos, dançamos, nos beijamos etc. A noite ia bem até que um palavrinha brochante jogou água fria no meu date (encontro).

Foi na volta pra casa, quando abri a janela do carro e um vento sorrateiro me desarrumou os cabelos. Do alto da minha vaidade, mais que depressa exclamei: -Uau, estou toda “embaraçada”!

Bem, não preciso nem contar o resto da história. Entre espantado e assustado, o boríqua logo tratou de encerrar a noite por ali. Não quis dá chance ao azar! E só meses depois fui saber que embarassada, em espanhol, quer dizer grávida.

E assim se foram meses, e muitos micos se seguiram. Mas nenhum marcou mais minha vida de imigrante do que o dia em que conheci a sogra da minha irmã, uma senhora evangélica, super casta e natural da República Dominicana.

Defensora da moral (alheia) e dos bons costumes (alheios), gostava de se gabar de ter casado virgem e nunca ter casado outra vez após a separação. Afirmava à minha irmã que casamento era um só, e para sempre. Se não fosse para sempre, que fosse o único. E foi essa figura que eu fui conhecer, num domingo de manhã.

Estava até excitada para conversar um pouco mais com ela, embora já tivesse ouvido sobre seu moralismo. Fui “cheia de dedos”, como se diz na minha terra, e “pisando em ovos”.

Ela gostou de mim de cara; disse que eu era bonita, elegante e que falava bem espanhol. Não bastou mais do que isso para eu começar a desfiar meu “enrolation”. E papo vai, papo vem, ela tascou a pergunta:

- Tienes novio?

- Não. Respondi concisa!

- Nunca has tenido?

- Nunca. Mais uma vez monosilábica. Mas acrescentei: - Para mim, noivo tem que ser só um, e quando for para casar.

A velha abriu um sorriso de orelha a orelha de contentação e tascou a exclamar: bien, mui bien. Esso si que es uma buena chica. Viene, viene. Quiero que conosca a mi sobrinho...

E assim se seguiram horas de apresentação a neto, sobrinho, vizinho, papagaio, cachorro, gato. Fosse do sexo masculino e estivesse solteiro, ela me apresenta como “la buena chica que nunca há tenido novio”.

E eu, sem saber, me tornei a atração do local; um bicho em extinção. Um jovem de 29 anos, solteira, que nunca havia tido sequer um namorado. A virgem e pura jovem, de 29 anos, que só pensava em ter namorado quando fosse para casar!!!!!

Em tempo: “novio”, em espanhol, quer dizer namorado e não “noivo”, como eu acreditava.

Vanuza Ramos
Enviado por Vanuza Ramos em 16/05/2006
Código do texto: T157400