CAUSOS DA BOLEIA - SE QUERES TER AMIZADE, DOÇURA E POESIA EM QUALQUER LUGAR, LEVE-AS CONTIGO

CAUSOS DA BOLEIA - SE QUISERES TER AMIZADE, DOÇURA E POESIA EM QUALQUER LUGAR, LEVE-AS CONTIGO

Antes de meu pai morrer, eu nem pensava em ser caminhoneiro como ele. A minha mãe reclamava muito das suas longas ausências. Acho que o segredo da manutenção da união dos dois era que, invariavelmente, quando ele chegava, sempre trazia um presente com a intenção de demonstrar que ela vivia nos pensamentos dele. Eu me lembro de que, quando era garoto, a minha mãe largava o que estivesse fazendo e saía correndo quando ouvia os três toques curtos e repetidos da buzina do caminhão. Era a senha utilizada para avisar que tinha chegado. Ela saía porta a fora e se jogava nos braços dele. Era sempre a primeira. Depois era a nossa vez, os seis filhos, de matar a saudade. Na primeira noite após a sua chegada, eles sempre iam dormir mais cedo e nós não entendíamos por quê. Aprendemos que tínhamos de aproveitar ao máximo a presença do nosso pai, antes que ele partisse novamente Brasil a fora em busca do nosso sustento.

Depois de casado, herdei dele o caminhão num momento em que estava desempregado e, consequentemente, a profissão. Infelizmente, não tive tanta sorte como ele na escolha da mulher, pois a minha, ao contrário da dele, não suportou os longos períodos de afastamento e o nosso casamento se desfez antes que tivéssemos filhos.

Assim, sem mulher esperando, raramente vou para o Rio de Janeiro. Quando não tenho compromisso, procuro ficar onde me agrada, dependendo da ocasião. Foi assim que eu, tendo deixado uma carga em Salvador, perto do fim do ano, resolvi tirar uns dias de folga para dar uma conferida nas festas baianas. Na verdade, eu estava precisando do aconchego de uma mulher, afinal de contas não estava podendo ir a Rondônia nem a Goiás. Também ainda não tinha decidido com qual das duas eu pretendia ficar: Paloma ou Mary.

Aconteceu num dia da festa em homenagem a Santa Bárbara, que é madrinha dos bombeiros e padroeira dos mercados na Igreja Católica. As festividades duram três dias e começam com uma missa na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Pelourinho. Em seguida, o povo sai em procissão pelas ruas do centro histórico até a sede do quartel de Corpo de Bombeiros. Depois da festa católica, o mercado popular na Baixa dos Sapateiros, recebe os manifestantes de outras atividades culturais e religiosas, com muita música, bebida e distribuição de uma comida típica, o caruru, tradicionalmente oferecida pelas filhas de Iansã, a mesma Santa Bárbara, mas para o candomblé, Santa Guerreira, Senhora dos Raios, dos Ventos e dos Trovões.

Eu a encontrei, ou melhor, ela me encontrou. Parece que adivinhou o que eu estava querendo e veio me oferecer o caruru. Eu peguei a gamela, e vieram junto as mãos dela e a promessa - pela troca de olhares cobiçosos e o sorriso daquela boca carnuda - de que aconteceria muito mais.

A comida dos Orixás foi o chamariz para eu chegar a uma filha de Iansã, cheia de dendê.

– Vai arriscar? - foi o que ela perguntou, depois da sua atividade na festa, quando me aproximei dela com a intenção óbvia.

– Eu não sei o que pode acontecer por causa da mãe, mas pela filha eu acho que vale a pena. Se você quiser se encontrar comigo mais tarde pra gente se conhecer... – eu disse.

– Hoje, não dá, mas amanhã, se você ainda quiser, a gente se encontra, e eu vou lhe dizer o que é ser filha de Iansã e você vai ver o que é que a baiana tem.

– Tá bom, a gente se vê amanhã. Aqui mesmo?

– É, pode ser. Você não é de Salvador, né? Eu nunca te vi.

– Não, não sou. Sou do Rio. Estou de passagem.

– Então, até amanhã, carioca.

Naquela noite rodei, um pouco pela cidade. Estava muito quente, e fui dormir bem tarde, depois de ficar passeando pela praia do Farol e pensando no encontro marcado. Então me dei conta de que não tinha perguntado o nome dela. Será que era bonito como ela?

Na manhã seguinte, estava ansioso. Sempre fico assim, nessas situações. Se ela tivesse ficado comigo na hora em que nos conhecemos, quando eu dei o pontapé inicial, seria diferente. Mas, daquele jeito, teria que começar tudo de novo. Ainda bem que ela parecia estar muito a fim. Nesse caso, não teria problema, ia ser fácil. À tarde, fui para o Mercado Popular, esperar por ela.

Quando me entregou a gamela com o caruru, ela disse: “Pensei que você não viesse, que tivesse desistido.”

– Eu cheguei agorinha – falei, procurando não demonstrar ansiedade, com o coração entrando no ritmo do batuque.

– Me espera na Praia, perto do Farol – ela disse e seguiu em seus afazeres.

Comi o caruru, esperei um pouco e depois fui caminhando para o local que ela havia indicado para nos encontrarmos. Não tinha passado nem meia hora quando ela chegou à praia. A mulher parecia o Sol, com toda a sua baianidade nagô. Vestida de vermelho daquele jeito, poderia se chamar Sol, porque brilhava muito nos meus olhos. Também poderia ser Mel o seu nome, porque parecia ser tão doce quanto os seus olhos de mel. Ao mesmo tempo era intensa, aura de deusa. Ela não usava adereços: colares, brincos; nenhum balangandã de baiana, mas o sorriso mais lindo e franco que eu já tinha visto enfeitava o seu rosto. Foi logo dizendo, com seu sotaque gostoso e melodioso:

– Chegou agorinha, fio? Peguei um busu lotado e só pude chegar agora. Era um vucuvucu danado, mas cheguei e tô aqui.

– Que bom que você veio. Pensei que ia me dar um bolo! O que a gente vai fazer?

– Ver o pôr do sol juntos. Você quer?

– Não perderia de jeito nenhum, mais por você do que pelo sol.

Ela mostrou um sorriso mais lindo que uma estrela, me pegou pela mão, e corremos juntos para trás do Farol. Sentamos na grama e vimos um pôr do sol inenarrável. Com o mar proporcionando uma visão inebriante, eu fiquei pensando: “Bem que o nome dela poderia ser Marisa, por causa do seu cheiro atraente de mar”. Ela me abraçou, e eu gostei. Com os lábios roçando a minha orelha, ela falou de uma maneira tão brejeira que me causou arrepio:

– Você estava doidinho pra conhecer a filha de Iansã, não é, carioca?

– Estava, não, estou querendo, ainda. Como você se chama? - eu perguntei, apesar de que o nome dela era o que menos importava naquele momento, pois, quando o sol já estava indo para o Japão, ela me beijou... Sem nenhuma vulgaridade, sem nenhum preconceito; tão naturalmente que eu pensei que o nome dela poderia ser Desejo.

Quando me soltou, ela riu bem alto e disse:

– Êta que você vai pensar que eu sou retada demais! É que foi paixão à primeira vista. Você acredita nessas coisas?

– Eu acredito na paixão. Acredito no sabor da paixão. Quando você pegou na minha mão pra me dar o caruru, senti o gosto do desejo.

– É uma receita nova, menino: quiabo, dendê, castanha, sedução e paixão.

– E o seu nome, linda? Você ainda não me disse.

– Meu nome, a propósito, é Maria. Maria da Paixão. Mas me chamam de Paixão e, pra você eu sou toda paixão, ardendo de paixão.

– Faz jus à pessoa – eu disse, passando a mão no rosto dela e, de leve, a ponta do dedo em seus lábios, em um de cada vez. – Pensei que toda baiana usasse um monte de colares e enfeites, mas você não usa.

– Eu, como filha de Iansã, não gosto muito de enfeites, não. Sou mulher retada, sou pra guerra e pro fogo. Gosto do vermelho. O vermelho me basta... E o teu, qual é?

– O meu o quê?

– O teu nome, ora!

– Rui Barbosa, mas pode me chamar só de Rui. Desculpe-me por não ter dito antes, mas você não me deu oportunidade.

Ela sorriu de um jeito tão gostoso, com os olhos brilhando tanto que quase a agarrei ali mesmo.

– Você me encanta, menina, Paixão. Vamos a algum lugar? Que tal beber alguma coisa?

– Vamos ali ao Barra Vento, o visu é lindo!

Fomos andando devagar, porque eram tantos abraços, carinhos, dengos e beijos no caminho que nem estava com pressa de chegar lá. O tempo bem que poderia parar... Quando chegamos, minha baiana chamou atenção com sua beleza exuberante, meio mulata, meio índia, com seus longos cabelos pretos; a boca carnuda e a felicidade declarada no rosto, na pele, nas atitudes de mulher dona de si... Os seios saltitantes pareciam não querer ficar presos, e os meus olhos só cheios de vontade de libertá-los.

Sentamos a uma mesa, e nessa altura, eu era todo desejo, e ela não se intimidava com minhas carícias e meus beijos. Era uma mulher quente, consciente do seu poder e de suas armas para seduzir... uma tentação. Mas também precisava de um homem para amainar aquele calor, o fogo de mulher, e o lugar já não era apropriado para o que eu e ela, evidentemente, estávamos, àquela altura, necessitando. Então, disse para a minha Paixão, com a intenção de abreviar o nosso tempo no bar:

– Você quer beber o quê, morena?

– Quero água de coco, e você?

– Eu vou tomar um chopinho, como todo bom carioca, mas bebo muito pouco, só um.

Tomamos as nossas bebidas, mas eu estava querendo mesmo era sorver aquela boca carnuda. Ela começou a falar da sua vida. Achei que não era hora e pensei que fosse estratégia. Não foi a primeira vez que ela fez aquilo naquela noite. Atiçava a ponto de eu não aguentar mais de desejo, depois jogava um balde de água fria e recomeçava acumulando tensão.

– Eu moro em Cosme de Farias – ela disse –, um bairro pobre daqui, de Salvador. É habitado, em sua maioria, por negros, descendentes de escravos que trabalhavam nas casas dos senhores. Minha mãe era lavadeira, meu pai, carpinteiro. Tenho uma irmã que casou com um gringo, pagou meus estudos e acabou de construir a nossa casa. Estudei Letras na Universidade Federal da Bahia e sou professora.

Eu me espantei. Não esperava que aquela moça simples que conheci numa festa e veio me entregar uma gamela de caruru tivesse formação superior. Será que ela ficaria comigo se soubesse que eu era um simples caminhoneiro?

Ela continuou contando coisas do seu dia a dia:

– Às vezes, tenho que pegar três ônibus pra chegar a tempo na escola em que dou algumas aulas, além do meu trabalho na Prefeitura. Salvador está muito congestionada e violenta também.

– Mas não como no Rio – eu falei. – Salvador, me parece, ainda tem muita paz.

– Como no Rio, ainda não estamos, mas vamos chegar lá. Riu muito e me contagiou.

– Tenho vinte e quatro anos. E você, Rui?

– Eu tenho os seus vinte e quatro e mais uns tantos. Quanto você me dá?

– O suficiente para ter experiência, do jeito que eu gosto. Mas você ainda não me disse o que faz.

– Sou caminhoneiro.

– Caminhoneiro?!

– É. Por que o espanto? Alguma coisa contra?

– Caminhoneiro não presta. São todos mulherengos. Têm namoradas em todos os lugares.

– Quem disse isso?

– Ninguém me disse, eu é que acho. São iguais aos antigos caixeiros-viajantes...

– Então, estou na profissão errada, por que nem tenho mulher.

– Se não tem deve ser porque não quer. Chegar junto você sabe, e muito bem, eu que o diga...

– Eu não encontrei a mulher. Melhor, não tenho certeza ainda. E você?

– Eu sou filha de Iansã.

– Eu estou ficando muito curioso e quero saber onde estou me metendo. O que é ser filha de Iansã?

– Já lhe mostrei... Você é que não reparou. Mas pra eu explicar com mais detalhes você tem que me dar um beijo antes.

E eu dei o beijo, ora, se dei! Ela tinha a boca linda, os lábios carnudos. Desse no que desse, qualquer que fosse o significado de ser filha de Iansã, eu estava disposto a entrar de sola.

Quando terminamos o primeiro beijo, ela pegou meu rosto entre as mãos e me olhou de um jeito, assim... dominador. Enlaçou o meu pescoço e invadiu a minha boca novamente por longos minutos, até que ela própria indicou que estava satisfeita, afastando-se lentamente.

“Iansã – começou a falar – é a primeira entidade feminina a surgir nas cerimônias do candomblé. Impressiona pela independência quase selvagem, característica do seu comportamento. Esposa de Ogum, largou-o quando se deixou fascinar pelo magnetismo de Xangô, mas não cortou completamente as relações com o primeiro esposo, de quem se tornou amante. Essas reviravoltas na vida dão o toque original aos filhos de Iansã, fora a franqueza e a extroversão. Nas cerimônias de candomblé em que os orixás se apresentam, a primeira divindade feminina que surge é Iansã. Ela vem na frente dos orixás femininos, brandindo a sua espada, guerreira, agressiva e, ao mesmo tempo, feliz. Sua imagem é sempre associada à felicidade extrovertida, da mulher que sabe guerrear e defende o que tem e o que quer com unhas e dentes, mas que também é igualmente expansiva no amor e em qualquer outro momento de alegria. É, também, a rainha dos ventos, dos raios e das tempestades. Seu temperamento é misticamente apresentado como apaixonado, dominador, arrebatado, corajoso e muito ousado.”

– Você quer dizer que...

– Espere, eu ainda não acabei de me apresentar.

E continuou:

– Sua dança no terreiro é uma mistura de seu papel de guerreira, brandindo a espada para afastar os espíritos e marcar o seu poder. É uma mistura de autoafirmação e também de celebração explosivamente sensual. Seriam assim, portanto, todas as filhas de Iansã. Transformam a vida numa grande aventura e podem mudar o rumo de sua vida por um amor ou por um ideal. São atiradas, extrovertidas e francas. Não conseguem ou não querem esconder suas emoções quando se sentem atraídas por alguém e se entregam intensamente. Esse temperamento sensual e voluptuoso pode levá-las a aventuras amorosas, até extraconjugais, sem arrependimento, cuja proibição ou cujo impedimento podem deixá-las mal-humoradas e agressivas...

–...Viu agora que eu já havia lhe mostrado? Então...vai topar? – ela perguntou.

– Se eu dissesse que não, seria um tolo, afinal de contas, sou ateu. Mas fiquei curioso com uma coisa... Por que você me deu duas vezes uma gamela com aquela comida pra comer? Tem alguma coisa a ver com isso?

– Não. Caruru é uma comida típica daqui, da Bahia. Quente, não é? É servida nos rituais de candomblé, mas eu acho que é pra agradar os espíritos, como nos festejos de São Cosme e São Damião, que começam em setembro, época em que eles fazem muito caruru, desde o tempo dos escravos.

Eu a peguei pela mão e a carreguei comigo. Passamos a noite juntos. Ela era realmente uma guerreira, uma amante perfeita, digna de tudo que me contou. Na manhã seguinte, após o café, disse-me que teria de ir a casa dela, mas queria ficar comigo de novo, à noite.

Eu perguntei a ela como iria ser depois que eu fosse embora, no dia seguinte, porque eu teria de pegar uma carga para levar para o Rio. Ela me disse que só queria que eu voltasse de vez em quando, porque tinha um filho que dependia de sua atenção e não gostava de deixá-lo com a mãe quando saía para namorar... E que eu havia aparecido no momento certo.

Eu achei o argumento meio falso. “Será que ela tem namorado ou é casada?” Mas para mim não tinha muita importância, eu queria aproveitar ao máximo o que estava rolando. Passamos mais uma noite juntos e, na manhã seguinte, estava pensando em deixar Salvador com uma boa lembrança quando ela veio se despedir de mim.

– Quando é que você vai voltar aqui? – ela perguntou.

– Eu devo subir a Rio-Bahia daqui a duas semanas, talvez, pra ir a Feira de Santana. Você bem que podia vir comigo, rodar um pouco pelas estradas. Assim eu poderia ter alguém pra conversar e unir o útil ao agradável.

– Eu até sonhei que você iria me convidar e não sei por que, mas alguma coisa estava me dizendo que você ia fazer isso.

– Então, você vai?

– Você acha que eu ia deixar escapar uma chance dessas? Deixe só eu ir a minha casa. Espere aqui, que eu volto logo.

Ela saiu apressada e demorou quarenta minutos, contados no meu relógio.

– Agora, podemos ir – ela falou, entrando na boleia e me dando um beijo. – Só fui pegar umas roupas e falar com a minha mãe. Ela ficou meio desconfiada de eu ter que viajar de repente. Disse que encontrei meu chefe e ele me perguntou se poderia ir no lugar dele a Ilhéus, a uma convenção, porque surgiu um problema, e ele não poderia ir. Tive que inventar isso por causa do meu filho. Ela reclama muito se eu o deixo com ela para passear.

Nós passamos duas semanas juntos, como se estivéssemos em lua de mel. Fomos a algumas cidades do interior de São Paulo e depois subimos a Rio-Bahia até Feira de Santana, conforme previsto; e de lá fomos para Salvador, onde a deixei. Ela pediu que eu voltasse em fevereiro, porque no dia 2 fazem uma festa muito bonita para homenagear Iemanjá. Desde a madrugada, filhas e mães de santo, babalorixás, pescadores, turistas e curiosos cantam e homenageiam a rainha do mar na maior manifestação religiosa pública do candomblé. As oferendas, os pedidos e os presentes são depositados na casa de Iemanjá e são guardados em balaios. No final da tarde, são jogados ao mar por um cortejo de centenas de embarcações. São muitos balaios cheios de flores, perfumes, bonecas, espelhos e outros presentes de agrado dela. Diz a crença popular que se o presente principal oferecido pelos pescadores da colônia afundar rapidamente, Iemanjá está aceitando e irá retribuir, atendendo aos pedidos.

– À noite, há o desdobramento profano da festa, e eu espero poder ficar com você.

Mais uma vez, ela me deixou pensando que era comprometida, mas é claro que eu fui, ora. Passamos novamente uma semana juntos, dando vazão aos nossos anseios. Eu jamais esquecerei a nossa primeira noite. O intenso extravasamento dos desejos libidinosos. Foi uma experiência inesquecível fazer amor com uma mulher que era meio criança e ao mesmo tempo a sedução em pessoa. Não tinha medo de nada... Uma aventureira. Acho que se eu a chamasse para voar comigo, ela iria. Mulher guerreira, batalhadora e sem limites para amar.