Telefonema Surreal

Zaph Yzsarck, esse é o nome dele. Sofre não pela solidão, pois ficar só em vários aspectos é bom demais, mas o contraponto disso mesmo é que o faz sofrer, incompreendido, ele traça seu rumo sem ajuda emocional de ninguém. Com 32 anos de idade, residi em um quarto pequeno e bagunçado, localizado no centro, bem no coração da cidade... Metrópole repleta de adrenalina, causando emoções diárias ao um pobre coração partido.

Mas a noite é diferente, na atmosfera do silêncio, a madruga se põe a falar em um ambiente surreal onde ele se esforça para conquistar a tão sonhada felicidade, que uns, em outro grau de edificação, a chamam carinhosamente de querida amiga, que é capaz, com somente um sorriso, transformar um rosto surrado por experiências inimagináveis.

...

Tirando alguns colegas (que pra ele não eram de muita importância) ele quase não tinha amigos, mesmo assim conseguia ter uma vida relativamente sociável.

Na sexta-feira bebia até cair na cama, e às vezes no chão mesmo ficava sem forças para se levantar. Recuperado, voltava a beber a noite no bar que geralmente freqüentava aos sábados, o Clube Jazz:

- Uísque, por favor – infelizmente ele tinha um problema com as bebidas, mas pra ele estava tudo bem, pois eram as suas únicas companheiras –.

- Senhor... Mais alguma coisa?

- Sim, sim... Pode deixar a garrafa.

Sorrindo o garçom se retira... Na companhia do drinque acende seu charuto, escuta o grupo que se apresenta, e mais uma vez encara sua noite com turbilhões de pensamentos...

Depois de algum tempo, algo lhe aconteceu...

De repente, o lado belo da vida se apresenta:

- Esta esperando alguém? Reparei que está sozinho, sou nova na cidade... Eu... Posso me sentar?

Mesmo não acreditando que uma mulher viesse até ele, sorriu e com uma resposta simples e sem jeito disse para a mulher se sentar:

- Sim, claro... Sente-se

- Então... Olá! Sou Magirreri, prazer.

- Bom... O prazer é todo meu, Zaph.

- Servida? – Como todo cavalheiro, lhe oferece alguma coisa –.

- Compartilho de seu uísque...

A noite segue sobre profundos olhares por ambas as partes, troca de elogios e muita conversa até o amanhecer...

Com o seu telefone na mão, Zaph já imagina o próximo encontro.

...Linda, inteligente, e poderosamente sedutora. Aquela mulher o conquistou...

Dia seguinte, no domingo a tarde resolve ligar:

- Alô, Magirreri?

- Deve ser engano senhor, não tem ninguém com esse nome aqui.

- Hum... Tem certeza? – ambos verificam o número –

- Deve ser engano senhor

- Ok! Desculpe...

Que decepção... Foi engano quando tentou ligar pra ela. O telefone anotado no guardanapo do bar não correspondia ao de Magirreri?

Com o triste dilema de uma solidão não desejada, o domingo se perde no tempo esvaziando a pequena chama da esperança que por algum momento acendeu em seu coração.

Mais uma semana se passa... Labirintos de sentimentos, ora felizes, outrora, nem tanto assim... Pensamentos complexos... Perdido está.

Sábado resolve ir ao bar (o Clube Jazz) para afogar as magoas como de costume:

- Garçom, o drinque de sempre fazendo um favor.

Após quase a metade da garrafa, já tomado pela depressão momentânea das lembranças da mulher misteriosa, decide ir embora. No caminho de casa esbarra em alguém:

- Nossa! Olhe por onde anda

Bêbedo e fracassado em mais uma noite de sábado, Zaph se desculpa:

- Minha senhora, me desculpe, por favor, a questão é...

- Tudo bem... – evitando maiores transtornos a mulher tenta o deixar falando sozinho, quando... –

- Magirrei? É você?

- Nossa! Zaph... É você? Caramba!

Inimaginável a emoção que Zaph sente ao vê-la... E vendo seu estado deplorável, ela o leva até sua casa, e antes de ir embora coloca em seu bolso um recado:

- Querido Zaph, não sei por que você não me ligou, mas de qualquer forma ainda quero te ver novamente, me procure. Até... Beijo!

... Deita em sua cama com a sensação de Déjà vu.

Ao notar o bilhete em seu bolso, corre para o telefone:

- Magirreri, é você?

- Oi, quem?

Sou eu Magirreri, você deixou um bilhete pedindo para que eu ligasse... Sou eu, Zaph

- Desculpe, mas deve ser engano.

- Engano, de novo? Esse número não é da Magirerri?

- Não.

Mais uma vez? Zaph desliga o telefone. Triste, confuso e totalmente perturbado, se desespera ao ponto de se perguntar:

- Droga! Mas o que está acontecendo comigo? Mas a Magirreri...

Zaph aos poucos perde a noção do que é real... Sentado em sua cama chora, percebe que tem alguma coisa errada.

...

Uísque e companhia, as bebidas... Amigas inseparáveis de Zaph estavam o destruindo. Quando percebeu que o fundo do poço estava cada vez mais próximo, ficou preocupado ao ponto de procurar ajuda. Com alguma força de vontade, e com muito custo fez alguns tratamentos e com ajuda de medicamentos o vício até então incontrolável do álcool o deixava em paz, e aos poucos começava uma nova vida.

Mas a vida social para ele não era assim tão fácil de se lidar, pessoas o visitando com freqüência, passeios ao ar livre como boas caminhadas nos bosques da cidade... O deixava tenso, preocupado e com muito medo, sentia-se acuado, sufocado... E o que mais desejava era seu pequeno, bagunçado e aconchegante quarto, assistir algum filme ou ler um bom livro...

Talvez a solidão para Zaph fosse necessária? Ou a paz em forma de aconchego e segurança exagerada fosse o real problema?

Perturbado com ataques repentinos, e com muita vontade de recorrer às bebidas novamente, decide buscar ajuda psiquiátrica. Diferente com qualquer outra pessoa, o divã lhe dava certo conforto para exprimir o que se passava em sua mente, conseguia descarregar suas emoções.

E assim foi indo por algumas semanas, muita conversa para compreender o que é real...

Todos os dias, lembrava daquela frase que seu psiquiatra o referiu:

- Zaph, a realidade pode ser cruel e os sonhos podem ser maravilhosos – mas lembre-se de abrir os olhos – pois o sonho, tanto quanto a realidade, pode ser um pesadelo.

...

Depois de alguns meses tomando os devidos comprimidos receitados pelo Doutor, e sentindo-se melhor, parou com o tratamento devido à melhora.

...

Alguns meses se passam... Não mudou quase nada, na verdade o quarto pequeno só não está mais bagunçado. Emoções pode ser uma faca de dois gumes, pois o depressivo Zaph já não é mais o mesmo, embora as mudanças de hábito o ajudassem em um sentido, por outro lado lá no fundo os sentimentos proibidos por a mulher dos seus sonhos, de certa forma ainda o perseguia.

Para ter certeza de que estava curado, teve a louca idéia de ligar para Magirreri. Era um risco que ele tinha que correr.

...Aquela mulher... Que ainda insistia em atormentá-lo...

Achando os números, que estava guardado na gaveta de sua cabeceira, decide ligar:

- Alô...

- Oi, quem fala?

- Aqui é o Zaph

- Zaph – com entusiasmo pronuncia o nome dele, e ele sem entender, pergunta –:

- Sabe quem sou?

- Claro, aqui é a Magirreri... Como vai? Que demora pra me ligar!

Zaph fica em silêncio, incapacitado de compreender...

Uma grande variedade de stress lhe aterroriza, o coração dispara e a tristeza, misturado com medo o consome. Em forma de depressão um grande vazio existencial o consome como se fosse um buraco negro sugando sua alma. O suor em sua testa demonstra desespero, pensamentos e percepções irreais, pensamentos desorganizados retornam... Tremendo ao segurar o telefone diz:

- Desculpe, foi engano.

...

Maicon Menta
Enviado por Maicon Menta em 09/07/2009
Reeditado em 29/11/2012
Código do texto: T1690513
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