História de Pescador 2: O arrastão

Numa tarde de sexta-feira, o relógio já marcava 18h00 e o motorista Zé Fei não parava de olhar para o relógio.

Pegava o celular e ligava apreensivo:

_Alô, Marildo, prepara a tralha que só falta mais uma entrega e já tô passando aí, fala pro Celso não atrasar !!!

Zé Fei não via a hora de pegar seus parceiros Marildo e Celso e ir pescar de arrasto em uma lagoa de várzea que disseram estar apinhada de peixes.

O relógio marcou 18h50, Zé Fei já havia deixado o caminhão no pátio da firma e pulou dentro de sua Variant 77 e acelerou para pegar os companheiros.

Uns 30 metros de rede foram colocados dentro da Variant, os amigos subiram e Zé Fei ganhou a estrada de terra.

Após rodarem uns 20 km, e chegaram na lagoa, escurecendo. Descarregaram as redes, ficaram só de shorts e já foram entrando dentro d´água.

A lagoa só se formava na época das chuvas e estava sinistra, pois com as chuvas abundantes, várias árvores estavam parcialmente submersas, muito galho, muito barro, e muitos peixes que passavam do rio para a lagoa e depois ficavam presos.

Começaram o arrastão. Na ponta direita foi Zé Fei, no meio, Celso não deixava a rede fazer "barriga" e na ponta esquerda, Marildo acompanhava em sincronia; a água batia na altura do umbigo e os amigos seguiam arrastando a rede.

Dava para sentir os peixes sendo malhados: traíras, curimbas, caranhas, acarás, chimburés, tucunarés, bagres.

Os pescadores já estavam na metade do percurso dentro da lagoa, quando Zé Fei sentiu algo agarrar sua perna.

Instintivamente levou a mão e olhou para a água escura, quando viu um rebojo e deu pra ver o lombo da sucuri já enrolando suas pernas.

Zé Fei começou a gritar, pedindo por socorro. Marildo e Celso vieram nadando, de pulo em pulo dentro d´água, com dificuldade em virtude do barro que se acumulava no fundo.

A cobra, muito forte, já havia imobilizado as duas pernas de Zé Fei, e estava claramente tentando afogá-lo. Com as pernas inertes, Zé Fei tentava abrir a boca da cobra que havia mordido sua coxa direita, mas não conseguia, tamanha a pressão da mordida da cobra.

A cobra puxava Zé Fei pra baixo e ele tentava deixar a cabeça fora d´água para poder respirar.

Quando Marildo e Celso viram o tamanho e a espessura da sucuri, ficaram morrendo de medo, e ao invés de ajudar o companheiro, saíram correndo de dentro da lagoa para buscar um facão que estava no carro.

Zé Fei já estava quase se entregando, não sentia mais as pernas e a cobra havia dominado também um de seus braços, na altura do peito, o ar faltava e ele já havia bebido muita água.

Marildo pegou o facão e pulou na lagoa, mas ficava com medo de desferir o golpe e atingir o amigo, Zé Fei tentava gritar apavorado enquanto se esforçava para colocar a cabeça fora d´água:

_Vai....mata...esse demônio...me salva !!!

Marildo deu três golpes, na altura do peito, onde a cobra já estava enrolada, Zé Fei já estava roxo como uma berinjela, havia bebido muita água, e a cobra não afrouxava a constrição.

Marildo pegou o facão e começou a bater "de esguei", contra as escamas da cobra, arrancando o couro da bicha. Uns seis golpes, então a cobra soltou, e fugiu, submergindo nas águas escuras da lagoa.

Marildo tirou Zé Fei da água, e tentava reanimar o amigo, que estava exausto, com uma ferida na coxa direita, um corte no peito, pelo golpe acidental de facão, mas estava vivo.

Depois do susto, Celso puxou a rede, e os amigos foram combater o stress daquela pescaria comendo um peixinho frito e bebendo uma cerveja gelada.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 18/12/2009
Reeditado em 21/12/2009
Código do texto: T1984301
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