EU VI COM ESSES OLHOS QUE A TERRA HÁ DE COMER

Esse caso aconteceu pelas bandas de Minas Gerais, cujo local preciso não me lembro, sei que perto de Manhuaçú, Ubá..., na família de minha avó, no ano de 1905. Ela sempre falava do fato horripilante ocorrido com um primo dela e no final sempre dizia: - Eu vi com esses olhos que a terra há de comer.

Seu primo andava preocupado pela fazenda,no interior de Minas Gerais, pois estava endividado e por perder as terras. Não tinha conseguido um novo empréstimo para quitar as dívidas porque a fazenda já estava penhorada junto ao Banco. De longe avistou a casa da fazenda e entristecido por estar a perder as terras, foi se afastando até que de repente avistou um casebre, o qual jamais tinha visto naquele lugar. Resolveu bater à porta, quando foi atendido por uma velhinha:

_ Minha senhora, eu estava rondando minhas terras e percebi esse casebre e queria lhe informar que a senhora vai ter que sair, pois estou a perder as terras. Engraçado sempre passo por aqui e nunca vi esse casebre.

A velhinha respondeu:

_ Meu senhor, eu sempre estive aqui. É que nunca percebeste.

O calor estava à pique e ele pediu um copo de água, quando a mesma apareceu com um copo de cristal.

Ao ver aquele copo de Cristal, indagou:

_ Como pode a senhora morando num casebre como este ter um copo assim?

_ Ah! eu posso tudo! Posso até resolver o seu problema.

Não acreditando no que estava acontecendo, perguntou:

_ Mas, como poderá me ajudar se preciso de muitos contos de réis para pagar a dívida?

_ Faz um pacto comigo e terás o que quiser.

Então pensou, repensou e disse:

_ Bem, já que estou a perder tudo, farei o que você pedir.

Dessa forma, a velhinha pegou uma faca tirou um pouco de sangue da mão do senhor, escreveu algumas palavras e o fez assinar. E disse-lhe:

_ Voltes para sua fazenda e vá ao seu quarto e levante o travesseiro da cama e lá estará o dinheiro.

Ele saiu e foi o mais rápido possível para a fazenda, subiu as escadas e direto ao quarto, pensando com seus botões, o quanto idiota era para acreditar no que tinha ocorrido com ele. Mas, estupefato ficou ao levantar o travesseiro e lá estar o dinheiro. Retornou ao local para agradecer a velhinha e não mais encontrou o tal casebre. Assim, acertou a sua situação financeira, construiu Igrejas e chegou a ser padrinho de vários casamentos e batismos. Toda vez que precisava de dinheiro levantava o travesseiro e o dinheiro aparecia.

Passado uns sete anos, ele começou a ficar doente e foram vários dias de sofrimento. Os médicos não sabiam dizer o que ele tinha, chegando a definhar na cama. Até que um dia antes de falecer, chegou um cavaleiro montado num cavalo todo preto e sela de ouro. Ele trajava-se de preto e mancava de uma perna. Entrou pela casa e dirigiu-se diretamente ao quarto. Olhou o morimbundo e saiu. Logo após ele morreu. No seu velório o mesmo homem retornou, olhou o corpo e saiu. Logo após entrou um cachorro preto com os olhos que pareciam duas bolas de fogo e, num segundo, abocanhou o corpo e saiu arrastando-o pela sala afora levando o corpo para o terreiro. As pessoas que se encontravam ficaram assustadas e não conseguiram ter uma reação sequer. Só escutaram um estrondo e cheiro de enxofre. Correram para o terreiro e havia sumido o corpo junto com o cachorro.

Na fazenda, após o ocorrido, as pessoas que lá viviam tiveram que se mudar. A fazenda foi abandonada, escutava-se rumores que ouviam-se vozes e apareciam vultos. Tudo que êle construiu com o dinheiro, bem como os casamentos que apadrinhou, foram desfeitos. Até o dia em que minha avó mudou para o estado do Rio, ninguém conseguia viver na fazenda e nas suas terras tudo que se plantava, morria.

E no final, ela sempre falava: _ Eu vi com esses olhos que a terra há de comer!