"O Casarão"

A casa de que vos falo é conhecida como casarão por ser mesmo assim, um Casarão! Ela ficava num terreno grande, que no Paraná era conhecido como data. Com muitas arvores grandes, que de tão grande, seus galhos tombavam sobre seus telhados, as folhas bloqueavam o brilho do sol durante o dia, e a noite era uma escuridão medonha, quando os galhos balançavam faziam sombra com o claro da lua, tudo combinava com as paredes de madeira velhas e escuras devido à falta de tinta, o telhado era de telhas paulistinhas, o assoalho de madeira, e embaixo da casa havia um porão cheio de tralhas velhas. Na frente do casarão passava uma ruazinha estreita, onde no meio dessa ruazinha avia uma leira de grama batida e nas laterais tinham marcas profundas das rodas das carroças que passavam por ali puxadas por animais. Eu era ainda moleque, e toda vez que passava enfrente aquele casarão tinha uma vontade imensa de entrar, curiosidade de moleque sabe como é. Mais a molecada do bairro dizia que a casa era assombrada, isso era mito, mais moleque do interior não pensa assim, e assombrado e pronto. Em minha casa, eu sempre ouvia o papai dizer que o sonho dele era um dia morar naquele casarão, para eu e meus irmãos, essa idéia maluca do papai causava arrepios, mais para os adultos, principalmente os casais que tinham muitos moleques, haaa, isso era um sonho, principalmente porque havia doze quartos. A tão sonhada privacidade dos velhos era o objetivo. E não é que numa negociata do papai ele comprou o casarão, e assim nos fomos morar lá. Os meus tios, com uma renca de moleques, meus primos e primas não viam à hora de nos visitar. Entre essa molecada havia uma prima que tinha cabelo nas ventas, como diziam nossos pais! E numa noite de verão a lua estava linda, e fomos visitados por este bendito tio e essa abençoada prima, a de cabelos nas ventas! E na casa não avia luz elétrica, eram lampiões, lamparinas e outros meios qualquer que os camponeses inventavam para clarear as casas de noite. Quando os meus tios e meus pais começavam a querer provar que uns moleques eram mais corajosos que os outros. Bem, minha prima essa infeliz de cabelos nas ventas se apresentou primeiro que meu primo, bom, esse moleque era um molenga mesmo, então ficou de fora da brincadeira, à brincadeira era; quem conseguia ir da varanda da sala, na frente da casa ate a coisinha, que ficava quase no fim da data, lá no fundão, carregando um ovo de galinha numa colher, e no breu da escuridão, teríamos que deixar o ovo em cima do fogão de lenha na cozinha e voltar, e lembrando que ali aviam assombrações, se o ovo caísse o fantasma faminto reclamaria seu alimento. Isso tudo já era de caso pensado pelos nossos pais, que já teriam preparado os efeitos, ou seja, tinham preparados algo para fazer barulho como fantasmas, se eles percebessem que alguém derrubasse os ovos, puxariam umas cordinhas amarradas nas cadeiras para nos assustar. E assim perpetuariam o mito do casarão assombrado. Naquela noite fui eu e minha prima, a de cabelos nas ventas! Vocês devem estar se perguntando, quem venceu o desafio? Bom, foi ela, eu deixei o ovo cair e amarelei com aquele barulho todo das cadeiras vindo em minha direção na escuridão, ate hoje penso que ali aviam fantasmas,

A minha prima continua com cabelos nas ventas.

Joel Costadelli
Enviado por Joel Costadelli em 18/03/2010
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