Amor de um menino.
_Acorda minino! Vai atrasá pra iscola!
_hhunnto...acordado... humpf...
_Num vô chama di novo!
O menino senta na beirada da cama, cabeça baixa, olhando a casca de ferida no dedão, apenas tentando ganhar tempo. Levanta-se aos poucos e vai direto para mesa, aonde um pedaço de pão esquentado na frigideira com uma parte esbranquiçada de manteiga o aguarda. Ele come devagar, enquanto sua mãe grita com o irmão mais novo. Levanta, mesmo sem terminar o naco de pão, e toma um gole de café já de pé, e se dirige ao banheiro aonde fica os próximos dez minutos.
_Vai logo minino! Desocupa logo o banheiro!
Ele sai, pega o caderno e sem dizer nada sai pela porta da cozinha, que dá para o corredor do curtiço, aonde o cheiro de azedo das úmidas roupas dos varais, que quase nunca pega o sol, se mistura com o cheiro de café. Ele aperta o passo. Ela deve estar passando, pensa ele.
_Bom dia Seu Osmar, o Sr. tem horas?
_Quinze pras sete!
_Obrigado seu Osmar!
Cedo ainda, ele pensa e diminui o passo. Começa a brincar com um graveto nas tabuas da cerca. Ele para na saida do curtiço, senta na guia e espera. Ele à vê de longe. Seu coração dispara, ele começa a ajeitar a camisa, deixa cair o caderno, seu rosto cora, ele sente o calor lhe subir`as faces. Lá está ela. O cabelo parece piche escorrido pelos ombros, de tão liso e negro que era. Olhando para baixo ele caminha na mesma direção que ela, só que a passos mais lentos que ele podia dar, até que ele escuta, bem perto de sua nuca, aquela voz que ele tanto conhecia e que em sua imaginação já formara tantas palavras.
_Oi...
_Oi...
_Estava me esperando?
_Eu não! Tá louca!
_Eu vi você sentado na guia. Parecia que estava me esperando.
_Cala boca sua chata!
_Chato é você!
_Chata é você!
Silêncio. Eles seguem andando lado a lado, encostando os braços levemente, e a cada vez que seus braços se tocavam, ele segurava o sorriso, e ela, segurava um suspiro.